segunda-feira, 10 de outubro de 2011

"5"


“Pegai um cadáver exânime. Ponde-o onde quiserdes. Vereis que não se incomodará de ser movimentado, não se queixará do lugar, nem reclamará por o terem largado.
Se for colocado numa cátedra, vai olhar para baixo, não para cima. Se for vestido de púrpura, vai ficar duas vezes mais pálido.
Esse é o verdadeiro obediente.” (2Celano 152, 3-6)

Não escrevo estas linhas por ser um 'expert' no significado do termo "obediência"; tampouco por ser um exemplo de vivência da mesma. Reconheço antes, a minha grande dificuldade de compreendê-la e torná-la parte da minha vida. Talvez por isso, empreenda o estudo deste aspecto tão importante do carisma franciscano, de modo a entender onde está a real dificuldade da vivência da obediência.

Certa vez, um frade pediu a Francisco um modelo de vivência da obediência, e ele emprega para tal, o exemplo do morto que está sujeito a tudo, menos a sua própria vontade. Não que a obediência se compare a um estágio de morte em vida, ou algo parecido. Muito pelo contrário. Obediência e vida são termos que se conjugam lado a lado no carisma franciscano, ainda que se perceba que a vivência em obediência requeira uma certa abnegação, morte do "eu mesmo", ou melhor, "mortificação de uma egoístico vontade própria" para um "viver para o coletivo" ou "viver fraterno.”

Francisco é exemplo da perfeita obediência!

É obediente quando em Espoleto, através de um sonho, o Senhor pede que ele retorne a Assis de modo a lhe revelar o que deveria fazer em seguida. Qual a reação do poverello? Ele não questiona esta ordem e, imediatamente, abandona o caminho da guerra e retorna à terra natal, como lhe recomendara o Senhor.

Mais tarde, se encontra com o Crucificado em São Damião, e o mesmo lhe ordena "Vai e reconstrói minha Igreja". Francisco tem dificuldade para entender tal imperatividade colocada pelo Cristo, mas sem pestanejar, inicia a reconstrução de três igrejinhas, até entender qual a verdadeira Igreja ele deveria reconstruir, segundo as instruções do Senhor.


Anos depois, Francisco abre mão das funções de ministro-geral da Ordem, e para não se distanciar de seus princípios, pede que lhe seja indicado um Guardião. Aquele que, inspirado pelo Espírito, fundou uma nova Ordem no seio da Igreja, inspirou inúmeros homens e os dirigiu pela caridade e espírito fraterno, agora pede que ele próprio seja submetido às ordens de um outro frade, de modo a se distanciar das vaidades e exaltar a obediência.

Outra menção à obediência se encontra no verso:

“Ó senhora, santa caridade, o Senhor te guarde por tua santa irmã, a santa obediência!”

Segundo Francisco, a obediência é irmã da caridade, e não é possível alcançar a plena vivência da primeira sem a perfeição da segunda. Só aquele que pratica a caridade, alcança a plenitude da obediência.

Peçamos a Deus que, inspirados pelo exemplo de Francisco, possamos interiorizar o principio da santa obediência, de forma que um dia possamos gritar com nossa vida o lema que serviu de modelo ao Seráfico Pai: "Que seja feita a tua vontade, e não a minha!" (Jesus, o Cristo)




Assim seja, Amém!

Wendell F. Blois
Subsecretário de formação

(Dedico essas linhas a todos aqueles que, lendo este texto, venham a se identificar com minha dificuldade em me configurar segundo a obediência proposta por São Francisco, mas mesmo assim, insistem em seguir seus passos.)

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