sábado, 28 de janeiro de 2012

MENSAGEM DO EVANGELHO DOMINICAL

por Frei Gilmar Vasques Cerreira, Ofm

4º Domingo do Tempo Comum
Evangelho (Marcos 1,21-28)

Depois do convite à conversão e à fé, Jesus entra na sinagoga e começa a ensinar. Mas o que á a sinagoga? O que se fazia aí? Quem freqüentava este local?
A sinagoga é casa de oração do povo de Deus, é o local também de estudo e aprendizagem da palavra do Senhor. Neste local os doutores e mestres da lei ensinavam a Palavra de Deus e o povo judeu procurava aprender com os mestres e doutores, porém, os pagãos acabavam também entrando na sinagoga mesmo sem permissão, pois queriam ouvir uma palavra de vida e libertação. No entanto esses mestres e doutores falavam de Deus, mas não falavam com Ele; sabiam muitas teorias sobre Deus, mas não tinham intimidade com Ele, por isso as palavras dos mestres e doutores eram palavras sem autoridade, eles só tinham teorias e não praticavam nada do que falavam!
Agora Jesus entra na sinagoga e o povo ficou admirado com a sua pregação, porque ele ensinava como quem que tem autoridade e não como os mestres da lei (v. 22). Por isso que um homem possuído por um espírito mal foi libertado. Mas o que é isto? O homem possuído pelo espírito mal é símbolo de todas as pessoas despersonalizadas às quais foi impedido falar e agir como sujeitos da própria vida e da história. Não são donas de si próprias. Mas o ensinamento de Jesus é novo, porque liberta ao mesmo tempo em que ensina.
Notamos aqui que o espírito fala no plural: “O que queres de nós”. (v24), isto é um sinal de que representa de fato tudo o que despersonaliza e aliena as pessoas como a violência, a corrupção, a miséria, a fome e tudo aquilo que fere a dignidade humana. Então notamos que Jesus é aquele que veio destruir o mal que aliena as pessoas. Diante da Palavra de autoridade de Jesus o espírito mal calou a boca (v25), e a fama de Jesus se espalhava por toda região da Galiléia.
Hoje nós que somos discípulos de Jesus, que ouvimos e pregamos sua palavra, precisamos falar com autoridade; mas já aprendemos que falar com autoridade é viver o que se prega, é falar com Deus e não somente de Deus. Sendo assim, nossa palavra será libertadora na defesa da dignidade humana e mais forte de qualquer espírito mau que despersonaliza e fere a condição humana.


Frei Gilmar Vasques Carreira, Ofm, é frade franciscano ligado à Custódia do Sagrado Coração de Jesus e vigário da paróquia São Judas Tadeu de Franca-SP.

TRIBUTO A FREI LEÃO (9)

Frei Leão, o destinatário!

Chegando ao fim do trabalho acerca das menções à vida de Frei Leão nas fontes franciscanas, nos deparamos com a benção que São Francisco escreve e dedica ao nosso querido personagem. Essa benção só foi descoberta depois da morte de Frei Leão, que a trazia muito bem guardada na parte interna de seu hábito. Vejamos, portanto, alguns aspectos importantes dessa benção.
Sabemos que Francisco escreveu de próprio punho pouquíssimas coisas e, provavelmente, do que  escreveu ou ditou a algum confrades deve ter se perdido bem como algumas legendas e obras biográficas descritas anteriormente. Esse fator faz com a benção em forma de bilhete seja um documento histórico e espiritual tão relevante na compreensão da relação do Seráfico Pai e Frei Leão.
A benção na Idade Média, consiste em um alvo de criticas por parte de historiadores, estudiosos e curiosos do período, já que ela era concedida pelos clérigos e padres seculares em contrapartida de bens materiais. Ou seja, a benção era fator de corruptibilidade do clero medieval, quase como um produto para escambo.
Assim está escrito no livro dos Números¹: "O Senhor disse a Moiśes: ' Dize a Aarão e seus filhos o seguinte: eis como abençoarei os filhos de Israel - O Senhor te abençoe e te guarde! O Senhor te mostre a sua face e conceda a sua graça! O Senhor volva o seu rosto para ti e te dê a paz! - E assim invocarão o meu nome sobre os filhos de Israel e eu os abençoarei."
E é assim que Francisco invoca, a exemplo dos filhos de Israel, com amor fraterno e gratuidade, a benção para seu irmão em Cristo e filho espiritual, de modo a protegê-lo de todas as tentações, dificuldades ou erros que porventura o acorressem.
Antes de seu encontro com a irmã Morte, Francisco abençoa todos os seus irmãs presentes, e  neles abençoou todos os demais, passados e futuros, espalhados por todo o mundo. ainda sobre benção, encontramos a que Francisco dedica a Frei Bernardo, seu primeiro companheiro.
Mas por Frei Leão, Francisco invoca o Senhor, intercedendo pelo único de seus frades que viveu uma série de momentos importante, e que partilhando sua vida com ele, em espirito de fraternidade, foi companheiro, testemunha e discipulo do Seráfico Pai.
Por isso, assim como um dia o Senhor Deus se dignou abençoar a seu povo escolhido, nos filhos de Israel, Francisco nos abençoa a todos em Frei Leão, seu seguidor tão querido.
Que o Senhor te abençoe, Frei Leão! E a nós também!

Wendell Ferreira Blois
subsecretario de formação
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¹Cf. Números 6, 22-27

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

PERGUNTAS INQUIETANTES

Quais pensamentos nos têm ocorrido em relação à 'retomada de posse' do 'Pinheirinho' em São José dos Campos?
 
a) 'Deixa pra lá! Afinal, graças a Deus não foi comigo nem com minha família mesmo!'

b)'Nossa, esse noticiário só traz desgraça, hein? Ainda bem que daqui a pouco começa a novela e acaba essa palhaçada.'

c) 'Não sei e nem quero saber quem é o certo ou o errado nessa história. Mas se o governo fez isso, esse povo devia estar errado mesmo'

d) 'Vou fazer o que? É como diz o ditado: Pão de pobre cai sempre com a manteiga virada para baixo'

"Vocês todos que passam pelo caminho, olhem e prestem atenção: haverá dor semelhante à minha dor? Como me maltrataram!" (Lamentações 1,12)

Espero sinceramente que esse tipo de pensamento não passe pela cabeça de nenhuma pessoa que se denomine cristã, católica ou franciscana. Francisco de Assis, seguindo os passos de Jesus, queria que vivêssemos de modo simples, pobre, mas com dignidade.
E se, em meio a uma situação como essa, insistirmos em opiniões retrogradas e inadequadas com o seguimento ao qual nos propomos (cristã, católica ou franciscana), peçamos a Deus que nos ilumine, pela fé, nos caminhos da caridade.
A esses nossos irmãos que sofrem e passam pela dor da perda, mais do que material, e sim moral, nossas sinceras orações!

TRIBUTO A FREI LEÃO (8)

Frei Leão, o visionário¹!

Como vimos anteriormente, as experiencias que Frei Leão presenciou e compartilhou junto a São Francisco são demasiadamente singulares. Penso que essas experiencias, essencialmente espirituais, fizeram com que nosso personagem firmasse sua própria e intima ligação com o Criador, a exemplo do Seráfico Pai.
De tal forma que, segundo os "Atos do bem-aventurado Francisco e seus companheiros" e a "Compilação de Assis", Deus começa a falar com Leão, não de maneira figurada, como todos nós falamos com ele, mas através de visões e sonhos.
Tamanha é a proximidade espiritual de Leão para com Deus, que Ele revela a nosso personagem como a vida que muitos frades levavam O desagradava¹. Não há dúvidas que essa passagem tenha haver com a opção radical que Frei Leão toma de, seguindo o modelo inicial de Francisco, viver radicalmente o Evangelho, diferentemente dos confrades os quais o Pai lhe segredara seu desagrado.
Em outro episodio, Leão é levado, por Deus, a desobedecer a Francisco³. Não tendo o livro de orações em mãos, o assissiense decide por elevar graças ao Criador espontaneamente. Sendo assim, Francisco pede a Leão que pronuncie uma oração que, de certa forma, o maldizia, que ia contra as vaidades espirituais e contra os méritos do Santo. Mas eis que Leão não consegue falar nada do que Francisco o impõe, pois Deus o incita a dizer justamente o contrario reiteradas vezes.
Com isso, Deus ensina a Francisco que esse seu ardor em não querer 'ser' mais do que os outros, mas sim o irmão menor, não deveria ser explicitado tão somente em forma de oração, pois Ele em sua Onipotência e Onisciência sabia sobre tudo o que se passava com seu humilde filho, e não seria as palavras penitenciais de Leão que mudariam algo. Ao contrario, Frei Leão se tornou ai um instrumento de Deus ao anunciar a misericórdia para com Francisco.
Ainda depois da morte Francisco, em sonho, se manifestou e contou a Frei Leão algo que Deus lhe revelara após seu encontro definitivo com o Pai. Francisco diz a Leão que uma grande fome se espalharia pelo mundo e que se ela ainda não havia se manifestado, era porque Deus teve de misericórdia para com os homens enquanto o Seráfico Pai vivia ainda por aquelas paragens4.
Provavelmente Frei Leão teve muitas experiencias semelhantes a essas e que por variados motivos não foram relatados nas fontes. Mas estes já bastam para termos alguma noção da dimensão do contato que nosso personagem teve com Francisco e de como Deus o tinha em 'alta conta'.

Para que essas linhas não se tornem uma ode melosa em honra a esse frade tão digno de homenagem, não apenas por suas experiencias em si, mas pela humildade e humanidade com que as vivenciou, encerramos por hoje.
Mas ainda há um ultimo capitulo!

Wendell Ferreira Blois
subsecretario de formação
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¹ A palavra 'visionário' é empregada no texto no sentido de ' aquele que tem visões, sonhos'. Como a palavra mais popular para essa definição é 'vidente', e a mesma é um tanto quanto vulgarizada, optamos por este sinônimo.
² Link para as fontes: http://www.procasp.org.br/paragrafo_capitulo.php?indice=20&titulo=Compila%E7%E3o%20de%20Assis&cParagrafo=259&cCapitulo=21#CA%2021
³ Link para as fontes: http://www.procasp.org.br/paragrafo_capitulo.php?indice=7&titulo=Actus%20Beati%20Francisci%20et%20sociorum%20eius&cParagrafo=1079&cCapitulo=25#Act%20
 4 Link para as fontes: http://www.procasp.org.br/paragrafo_capitulo.php?indice=37&titulo=Actus%20Beati%20Francisci%20et%20sociorum%20eius&cParagrafo=1109&cCapitulo=25#Act%2038

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

São Paulo e São Francisco: Paladinos do Evangelho

Antes de qualquer coisa, quero dizer que não pretendo comparar os dois santos citados no título desta reflexão, dado que ambos viveram realidade bem diferentes. Mais do que isso, quero juntar em um único texto a grandeza destes dois homens. De fato não caberá todos os feitos que Deus prodigiosamente realizou na vida de cada um deles, mas tenho apenas a intenção de abrir o caminho.
No primeiro texto que escrevi, o texto chamava a continuidade refletindo sobre as Virtudes Teologais, mas antes de trazê-las para este blog, refletiremos juntos com Francisco e Paulo, ardorosos seguidores de Cristo, e grandes difusores do evangelho.

O CAMINHO

O caminho sempre foi o lugar da conversão. Jesus caminhava as margens do mar da Galiléia, e lhes seguem os filhos de Zebedeu. Felipe descia de Jerusalém em direção ao Sul, e apresenta Jesus a um servo da Rainha da Etiópia. Saulo caminha rumo a Damasco, Jesus lhe aparece em visão e mais do que rapidamente muda de caminho, e na rua Direita é batizado, e assim recebe o Espírito Santo e começa a evangelizar.
Francisco caminha para as cruzadas, o Senhor lhe aparece em visão e o pergunta qual é o verdadeiro Senhor a que se deve servir. O caminho levou tantos homens a Deus, mas não vamos simplesmente nos prender ao caminho enquanto espaço físico, mas consideremos também o caminho enquanto espaço que a alma percorre a procura da verdade cravada em Deus. O caminho transcende o que a palavra transmite simplesmente, e se torna o lugar do acontecimento.

Imagino que esse foi o motivo que levou estes dois santos a sempre estarem caminhando. Sabemos que sempre estavam viajando, e suas viagens sempre empreenderam e resultaram em grande difusão do evangelho. Aquele ditado que diz que o melhor da viagem é o caminho, torna-se realidade ao tomar conhecimento da vida destes homens. São coisas que podemos experimentar também em nossas vidas, percorrendo o caminho transcendental que leva ao Cristo.

Vidas que tomadas pelo mão quando estavam a caminho, se entregam por completo na missão que lhes é empregada pelo evangelho. A fidelidade ao evangelho faz com que esses dois homens deem cada um a seu modo, um novo rosto a Igreja de Jesus. Paulo modela os princípios da Igreja Primitiva, junto aos demais apóstolos. Séculos depois Francisco de Assis redescobre o evangelho e as ideologias das primeiras comunidades cristãs, muitas delas fundadas por Paulo ou seus companheiros. Os cristãos tinham tudo em comum, e estavam abertos a todos que quisessem aderir a Jesus. Sempre foi esse o pensamento da Igreja, mas em Francisco tudo isso ganha novo vigor. O retorno às origens.

Num tempo muito a frente dos que viveram estes santos homens, somos chamados a redescobrir a mensagem do evangelho, redescobrir o caminho da rua Direita, fazer novamente o caminho que leva a Apúlia, mas em Espoleto mesmo decidir o verdadeiro caminho.

E talvez o mais importante seja ter sempre em mente uma frase de Paulo, muito usada por Francisco, que deve impregnar nosso pensamento:

"Senhor, que queres que eu faça?"


Esta é a duvida que pôs estes homens a caminho. Atreva-te indagar-se também!

Na próxima semana, enfim vamos refletir sobre as Virtudes Teologais!!

Mateus Agostini Garcia
Secretário Fraterno Local

TRIBUTO A FREI LEÃO (7)

Frei Leão, o discípulo!

Assim disse Jesus: "O discípulo não é superior ao mestre; mas todo discípulo perfeito será como o seu mestre¹". Eis outra qualidade ou característica que pode ser muito bem empregada à Frei Leão.
Discípulo não é necessariamente um individuo que segue fisicamente determinado mestre, mas sim, seus ensinamentos e doutrinas. Frei Leão, porém, é um discípulo privilegiado por partilhar com certa intimidade da sabedoria de Francisco, seguindo-o não apenas pelo caminhos espirituais, mas também pelas estradas da Itália feudal.
Estabelecendo uma comparação entre o grande mestre nascido em Belém e o assissiense, talvez possamos comparar Frei Leão a João, o "discípulo mais amado". Por vezes Jesus chama João e outros dois discípulos para vivenciarem momentos mais fortes e íntimos de revelação e fé junto a seu mestre, como no episodio da transfiguração. Como vimos anteriormente, Frei Leão foi convidado a testemunhar o momento da transfiguração da Ordem, por Cristo, em Francisco e nos demais frades presentes nesse episodio.
Também na cruz Frei Leão se assemelha ao filho de Zebedeu.
João foi o único discípulo presente, junto com Maria, na crucificação do mestre. No Monte Alverne, o Gólgota italiano, Frei leão vê Francisco se tornar participe do gesto redentor do filho de Deus, como única testemunha desse momento admirável.
Voltando à passagem do evangelho que abre esse texto, foi presenciando as experiencias de fé de Francisco que Frei Leão estabeleceu sua própria espiritualidade, que ainda que saibamos objetivamente muito pouco, se inspirava nos exemplos do Seráfico Pai, e depois da morte do mestre, ele mesmo se tornou uma referencia espiritual ou espelho para muitos frades, como legitimo discípulo que foi.
Vivemos em um tempo em que todos são 'seguidores' de alguma forma, seja de um individuo especifico ou de uma determinada ideia. Muitos se denominam 'seguidores', muitos de nós inclusive, mas muito poucos se tornam verdadeiros discipulos, pois estes são os que não se satisfazem em seguir, em 'andar atrás', mas com humildade buscam caminhar lado a lado com seu mestre, de modo a partilhar da mesma fé, caminhar em uma mesma esperança e viver em perfeita caridade.
Essa é mais uma face de Frei Leão!

Wendell Ferreira Blois
subsecretario de formação
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¹Cf: Lucas 6,40

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

TRIBUTO A FREI LEÃO (6)

Frei Leão, testemunha do admirável!

"E eis que o véu do templo se rasgou em duas partes, de alto a baixo, a terra tremeu e fenderam-se as rochas.¹"
Essa passagem se refere aos acontecimentos que sucederam a morte de Jesus, mas de certa forma e com a devida licença poética, poderia ser utilizada para descrever a nova vida de Francisco depois de receber os santos estigmas, já não como simbolo da morte e sim de vida, de amor e doação.
Esse momento especial da vida de Francisco está detalhadamente registrado no livro "Das cinco considerações sobre os estigmas de São Francisco de Assis"², e é justamente nesta obra que encontramos a maioria das referencias sobre Frei Leão levantadas para essa pesquisa.
É demasiadamente perigoso se deter em tal passagem, por sua beleza, riqueza espiritual e singularidade. Mas como ela já é razoavelmente conhecida e essas linhas são dedicadas as seguidor e não ao mestre, miremos a figura de Frei Leão.
Três frades acompanharam o Seráfico Pai até o sopé do Monte Alverne, em agosto de 1224, mas apenas Frei Leão foi chamado a subi-lo junto com Francisco. Penso que os dias que se seguiram podem se resumir e comparar a dois grandes momentos da vida Cristo, os quais nosso personagem presenciou: o julgamento, não por Pilatos mas pelo próprio Criador, e a crucificação no 'novo Gólgota'.
Francisco se isolou em certo local do monte e pediu que Leão ficasse a tal distancia e em determinado ponto em que ele não o visse ou ouvisse, e só se aproximasse para lhe trazer o alimento e rezar juntos uma vez por dia. Pois bem, Frei Leão era muito humano e avidamente curioso. Curioso em partilhar da espiritualidade de Francisco, a ponto de se aproximar do local em que o assissiense estava, fora do momento combinado.
E foi assim que ele viu uma especie de Pretório, ou tribunal. Sem paredes. Sem teto. Até mesmo sem um juiz visível. Mas apenas um réu que grita contra os ventos do Alverne, reiteradas vezes, sua suplica penitencial: "Quem sou eu e quem és Tú? Tú és o Bem, todo o Bem, o sumo Bem! E eu, teu servo, um vilissímo verme."
Esse não parece um julgamento comum. O juiz parece querer dar ao réu não um castigo, mas um precioso presente ou privilegio, mas ele se recusa a recebê-lo, dizendo-se indigno.
Porém,nada ou ninguém pode se interpor à vontade da Justiça e o réu é sentenciado com a pena mais sublime: o Amor. Daí em diante ele sentiria o maior dos Amores, aquele que um dia um outro réu sentiu dando sua vida por seus irmãos.
Como testemunhas, esse julgamento contava apenas com a natureza que cercava o réu e um único homem que espreitava aquele místico tribunal, escondido, tal como um 'cordeirinho' por detrás dos arbustos.
A execução penal viria daí a pouco.
A testemunha não estava espiando como anteriormente. Percebeu que algo que ia além de sua compreensão estava acontecendo junto à cela imaterial do condenado. Ele foi ao encontro do réu.
Ali ele não encontrou a mesma pessoa que a pouco tempo havia convivido. Algo de anormal havia acontecido. O véu de seu templo interno havia se rasgado, golpeado por um martelo, flagelado com pregos invisíveis nas mãos e nos pés e um golpe de espada próximo ao ventre. Mas a aparência permanecia tranquila.
O Amor mais sublime havia deixado suas marcas naquele homem.
A sentença fora executada!

Frei Leão é aquele que primeiro vê as marcas que São Francisco trazia consigo. Provavelmente não entendeu logo a principio, mas na fé, foi a testemunha do mais admirável acontecimento que alguém pode presenciar: a crucifixão da carne e do espirito, tal como em Jesus.

Wendell Ferreira Blois
subsecretario de formação
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¹ Mateus 27, 51
² Link para consulta http://www.procasp.org.br/subcapitulo.php?cSubcap=59

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

TRIBUTO A FREI LEÃO (5)

Frei Leão, testemunha do admirável!

O testemunho de Frei Leão como companheiro de Francisco continua, seguindo a narração agora do livro 'Atos do bem-aventurado Francisco e dos seus companheiros'. Nessas linhas, mais particularmente, abordamos a conversação do santo e seu discípulo, no episodio conhecido como a 'Perfeita alegria', e que nessa obra recebe o titulo 'Da doutrina de São Francisco a Frei Leão que só na cruz seja a perfeita alegria'¹.
Esse episodio merece especial destaque porque,segundo os irmãos que nos precederam, a fraternidade JUFRA de Franca-SP recebeu o nome de 'Frei Leão', justamente por conta dessa passagem.
De inicio, encontramos Francisco e Leão caminhando. E é nesse caminho que se desenvolve toda a historieta em questão. Antes de passarmos para a passagem propriamente dita, nos apeguemos a esse aspecto que se repete reiteradas vezes nos ensinamentos do assissiense. Francisco, a exemplo de Jesus, não escolhe um lugar fixo para expor seus pensamentos, mas faz do caminho, tanto o físico quanto o espiritual, o lugar de sua pregação. Isso nos recorda que não devemos ter uma paragem fixa, não só por morada mas também como lugar da pregação, do ensinamento, do exemplo, e sim, nos tornarmos peregrinos, em constante movimento.
Em relação à mensagem que o Seráfico Pai partilha com seu companheiro, Frei Leão em sua simplicidade habitual, deve ter-se espantado. Ora, Francisco indica feitos grandiosos que só poderiam ser operados por frades que se deixassem mover pela mais profunda fé e inspiração divina. Mas, para espanto de Frei Leão, Francisco ensinou que nisso ainda não se encontrava a perfeita alegria.
Francisco, o profeta medieval, se inspira em Isaías, o profeta da mensagem messiânica, e em sua profecia que dista dos sofrimentos do mais humilde dos servos, 'o servos dos servos'², o Cristo que viria ao mundo.
Jesus curou os doentes, ajudou os necessitados e converteu a tantos outros à verdadeira fé. Mas não era aí que se encontrava a verdadeira ou a legitima missão do Filho de Deus. Foi na cruz, no flagelo, na dor e no sofrimento do Verbo divino que tudo isso se concluiu de fato. Na alegria de sofrer e dar sua vida para remissão dos nossos erros e pecados.
Por isso Francisco ensina a Frei Leão que a perfeita alegria não se encontrava simplesmente nos fatos, momentos e feitos que são bons por si mesmos, e fonte de uma alegria essencialmente humana. Mas sim, no sofrimento. Não um sofrimento sádico.
Francisco pensa que para um simples mortal, poder experimentar de momentos de sofrimento, que de alguma maneira se assemelhassem aos do calvário de Cristo, e nessas circunstancias se manter tranquilo pois até o filho de Deus compartilhou da dor, isso já seria motivo de verdadeira e perfeita alegria.
Era isso que Francisco tanto queria, e que partilha com exclusividade com Frei Leão: dividir do sofrimento de Jesus, e se alegrar com isso. Eis a prefiguração de um dos momentos mais significativos e sublimes da vida do santo de Assis: a crucifixão da carne e do espirito.
Frei Leão tem a graça de testemunhar não apenas a prefiguração, mas também a esse momento tão emocionante da espiritualidade de Francisco e seu mais intimo contato com o Filho de Deus.
Mas esse é um assunto para outras linhas!

Wendell Ferreira Blois
subsecretario de formação
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¹ No link que disponibilizamos para consulta, a mesma passagem é intitulada 'Como São Francisco ensinou a Frei Leão que só na cruz está a perfeita alegria'.http://www.procasp.org.br/paragrafo_capitulo.php?indice=6&titulo=Actus%20Beati%20Francisci%20et%20sociorum%20eius&cParagrafo=1078&cCapitulo=25#Act%207
² Isaias 50, 4-11 http://www.bibliacatolica.com.br/01/29/50.php 

DIÁRIO DE UM MISSIONÁRIO III

No terceiro Diario de um missionário, temos o testemunho e os sentimentos apreendidos pelos irmãos Michelly e Paulo César.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

TRIBUTO A FREI LEÃO (4)

Frei Leão, testemunha do admirável!

"Pessoa chamada a assistir a certos atos autênticos ou solenes. Pessoa que viu ou ouviu algo, ou que é chamada a depor sobre o que viu ou ouviu". Essa é a definição que o dicionario 'Aurélio' apresenta para o verbete 'testemunha', e essa é a melhor definição que se pode utilizar em relação a Frei Leão, tanto na 'Compilação de Assis', nos 'Atos do Bem-Aventurado Francisco e seus companheiros' e 'Das cinco considerações sobre os estigmas de São Francisco de Assis'.
Frei Leão testemunha alguns momentos importantes e de crise na Ordem, desde a forma com que Francisco administra essas situações por inspiração divina, até os momentos misticos da espiritualidade intimamente experimentada pelo Seráfico Pai em seu contato com Deus.
Essas linhas querem destacar um episodio especial, da 'Compilação de Assis'¹, onde Francisco vendo que a regra que havia concebido nas primícias de sua nova vida, já não era mais vivida pelos frades de então, resolve chamar dois de seus companheiros - Frei Leão e Frei Bonizio de Bolonha - para que o acompanhasse e testemunhassem os acontecimentos que se sucederiam.
Frei Leão assiste o novo Moisés, Francisco, subir o monte de modo a se aproximar ainda mais do odor sapiencial de Deus. E, como o profeta do Êxodo, que subiu ao Sinai e recebeu as tábuas da Lei, o assissiense procura entrar em sintonia com Deus, de modo a oferecer aos frades que o procuravam, uma regra justa com o ideal e as convicções abraçadas.
E eis que um grupo de frades ministros, acompanhados por Frei Elias, procuram Francisco de modo a impedi-lo de impor à Ordem uma regra que, humanamente, parecesse dura demais.
Na sequencia encontramos mais um alegoria bíblica. Francisco ergue os olhos para o céu e, dialogando com Cristo, mostra a Ele a vontade de seus confrades. E, assim como um dia, em um monte como aquele, o Deus da primeira pessoa da Trindade Santa se mostrou simbolicamente e mostrou que no Deus Filho, Jesus, colocava todo seu amor e nele operava toda sua vontade, eis que agora o próprio Cristo faz retumbar sua voz dos altos céus e diz a quem quer que o ouvisse, que em Francisco e sua regra fazia-se saber sua mais sincera vontade, fosse ela dura ou suave.
Ao contrario da passagem evangélica, não foi uma única pessoa que se transfigurou, mas todos os presentes, pacíficos ou revoltosos, todos se transformaram diante da mensagem de Cristo para que tentassem se configurar segundo sua vontade.
Frei Leão testemunhou a tudo isso: a revolta de seus confrades; a simplicidade espiritual de Francisco; e a manifestação da vontade de Cristo.
Mas isso foi só o começo!

Wendell Ferreira Blois
subsecretario de formação
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¹ Link para leitura da fonte: http://www.procasp.org.br/paragrafo_capitulo.php?indice=16&titulo=Compila%E7%E3o%20de%20Assis&cParagrafo=195&cCapitulo=21#CA%2017http://www.procasp.org.br/paragrafo_capitulo.php?indice=16&titulo=Compila%E7%E3o%20de%20Assis&cParagrafo=195&cCapitulo=21#CA%2017

Arte e reflexão 5 (3ª TEMPORADA)

Encerramos hoje essa 3ª temporada da "Arte e reflexão"!
Esperamos que todos tenha gostado dessa pequena mostra dos trabalhos do desenhista Alceu Resende e seu Cisco que, com sua simplicidade e ingenuidade, tem muito a nos ensinar.
Para 'curtir' mais algumas tirinhas acesse: http://www.ciscodoamor.com.br/


Clique na imagem para aumentar!

domingo, 22 de janeiro de 2012

TRIBUTO A FREI LEÃO (3)

Frei Leão, esse desconhecido!

Como já vimos, em mais da metade das biografias de São Francisco contidas nas fontes franciscanas¹, não citam ou omitem as passagens que Frei Leão provavelmente vivenciou ao lado de nosso Seráfico Pai. Por isso, deixaremos esse quinhão de relatos por um momento, com as devidas e possíveis explicações dadas, e partiremos para textos que venham a ser mais uteis a esse trabalho.
Folheando as paginas seguintes encontramos ' Legendas dos três companheiros', escrita pelos freis Ângelo, Rufino e nosso personagem, Frei Leão. Mas a citação referente ao mesmo se dá uma única vez, na pagina de abertura da legenda, intitulada 'Carta dos três companheiros'².
Os estudiosos franciscanos indicam essa carta como provável e único trecho dos escritos originais desse frades, sendo que a legenda que segue à epístola, seria um relato escrito por um outro frade, seguidor ou não dos autores originais, e que teria se inspirado na coletânea legitima acima citada.
Pela legenda propriamente dita, podemos concluir muito pouco em relação a vida de Frei Leão. Destaca-se, no entanto, que muito provavelmente ele não se encontrava entre os seis primeiros seguidores de Francisco, sendo admitido à Ordem pouco depois da audiência que os frades tiveram com o papa Inocêncio III, abençoando o ideal do assissiense e dos que o cercavam.
Voltando à carta, Frei Leão e seus confrades, em obediência ao capitulo geral de 1244, se colocaram a rememorar os diversos momentos em que conviveram com Francisco, e a compilar o testemunho que, em outras circunstâncias, determinados frades deram de suas experiências com a santo de Assis.
Ainda que não saibamos objetivamente o que a verdadeira legenda contava, a epístola de abertura conserva os principais objetivos que Frei Leão e seus confrades desejavam contemplar. Segundo a carta, tais frades queriam transcrever em poucas linhas os fatos que até então não haviam sido contemplados por outros relatos biográficos. Salta aos olhos a afirmação dos autores, dizendo que não pretendiam narrar uma sucessão de milagres operados por Deus em Francisco. Mas sim, contar um pouco do cotidiano, da vida fraterna do assissiense.
Se a definição mais 'romântica' de companheiro é ' aquele que parte e reparte ou partilha do mesmo pão', essa legenda não poderia ter um titulo melhor. É claro que os milagres chamam muito a atenção dos leitores, mas a experiencia que Ângelo, Rufino e Leão tiveram com Francisco, vai alem desses feitos grandiosos. Eles não partilharam entre si apenas o pão, mas também suas dúvidas, convicções, questionamentos, aspirações e inspirações, ideais e muito mais.
Frei Leão já não é, portanto, um desconhecido como está qualificado no títulos destas linhas. Então empreguemos a ele um dos melhores adjetivos que um seguidor pode ser em relação a seu mestre inspirador: um legitimo companheiro!

Wendell Ferreira Blois
subsecretario de formação
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¹Fontes franciscanas/ [coordenação geral: Dorvalino Francisco Fassini; edição: João Mamede Filho]. Santo André; Mensageiro de Santo Antônio, 2004.
² Para o leitor que queira ler a carta, segue o link: http://www.procasp.org.br/paragrafo_capitulo.php?indice=0&titulo=Legenda%20dos%20Tr%EAs%20Companheiros&cParagrafo=407&cCapitulo=20#LTC%201