Caros irmãos em
Cristo Senhor, estejam vocês com a paz do altíssimo e sumo Deus.
Creio irmãos que
muitos de vocês saibam o que é um testamento, principalmente no mundo de hoje
onde dinheiro é algo que sempre recorre nossas mentes, assunto tratado em
histórias de novelas e que sempre causam desavenças familiares e de seus
próximos. É bem comum vermos nessas histórias o drama da partilha, das
porcentagens, de famílias se dividindo e brigando pelo pouco ou muito dinheiro
que há em jogo. Mas existe algumas heranças que são deixadas de modo bem
peculiar nós testamentos. São aquelas que para receber, os herdeiros da grana
precisam se submeter a condicionantes. Vimos isso no seriado “Cinquentinha”,
nas novelas “Caras e Bocas”, “O Cravo e a Rosa” e tantas outras. Porque será
que somos tão gananciosos? Essas histórias de ficção devem ilustrar o que volta
e meia acontece na vida real. Muitos se submetem a vontade de outrem para
conseguir pôr a mão no dinheiro. Fazemos isso por algo que valha a pena?
São Francisco de
Assis nos deixou um testamento. E se é testamento logo há herança na história.
Engraçado que Francisco deixa um testamento como esses com condicionantes pra
poder receber a herança. Mas se lermos não encontraremos valores financeiros,
peso em ouro, moeda, bens materiais pra serem partilha por seus filhos menores.
E que tipo de testamento é esse? É um belíssimo texto escrito pelo Pai Seráfico.
No final da leitura os olhos são capazes de estarem cheios de lágrimas,
salgados como o mar. O coração de alguns palpita mais alegre e contente. De
outros veem uma revisão de vida. Ler o testamento de São Francisco é quase
voltar ao ponto de partida que Santa Clara tanto pede. O testamento é a
expressão mais profunda daquilo que São Francisco queria que seus frades
vivessem, e é pra nós também um modo de expressão magnífico, exemplo a ser
vivido.
No muito que São
Francisco escreve em seu testamento, só identificamos que é um Testamento
quando ele mesmo o diz, “E não digam os Irmãos: ‘Esta é outra Regra!’ Pois,
esta é a recordação, a admoestação, a exortação e o meu testamento, que eu,
Frei Francisco, pequenino, faço a vós, meus Irmãos benditos para que mais
catolicamente observemos a Regra que prometemos ao Senhor.” (T 6, 34).
Nesse minúsculo
trecho Francisco nos mostra e recorda várias coisas. Ele mostra o que não é seu
testamento e igualmente esclarece o que ele é. Recorda o modo de vida que os
frades prometeram viver e que não foi o seu testamento que juraram seguir.
Francisco pede
que não façam do seu testamento a regra, porque mais bonita que ela seja e por
mais que ela nos diga o que fazer e as vezes como fazer, São Francisco queria uma
única regra e nada mais, por que nela basta.
Apesar de essa
não ser a regra o Pai Seráfico pede várias vezes que seus filhos assim façam,
assim ajam, como notamos nos trechos: “... e quero firmemente que todos os
outros irmãos trabalhem... Os que não sabem trabalhar o aprendam...” (T 6, 20-21)
Ler o testamento
é entender, de grosso modo, o desejo, o carisma de São Francisco de Assis, pois
seguir a regra causa somente uma consequência, a vivência do testamento.
Mas então o que
é essa herança deixada por Francisco? Porque se tem testamento tem que ter
herança.
A herança e a
regra são bem simples. Mas primeiro pra receber a herança, lembram, tem a condição.
É preciso uma renúncia, sair do século, afastar-se do mundano. A regra que São
Francisco pede que vivamos é uma só: “...observar o Santo Evangelho de Nosso
Senhor Jesus Cristo, vivendo em obediência, ...” (RB 1, 2) e ainda “...viver em
obediência, em castidade e sem nada de próprio e seguir a doutrina e os
vestígios de Nosso Senhor Jesus Cristo, que diz: Se queres ser perfeito, vai e
vende tudo o que tens e dá aos pobres e terás um tesouro no Céu; e vem,
segue-me. E: Se alguém quer vir após mim, abnegue a si mesmo e carregue a sua
cruz e siga-me. (RNB 1, 1-3) Ele continuará dizendo da renúncia de si mesmo e
da família. Seguir o santo evangelho e renunciar a tudo, é simplesmente não
deixar que nada tome o lugar de Cristo em nossas vidas. Aos franciscanos
seculares mesmo que pensemos e digamos “não, a nós não se aplica a regra por
que temos família e podemos constituir família” engana-se. Cristo é o centro de
tudo, o início e o fim. Dele vem todo o amor e luz. Mesmo os seculares devem
observar a regra de São Francisco porque podemos renunciar a tudo para viver o
evangelho, para seguir Cristo e dar a Ele o lugar de direito em nossas vidas,
mas claro, não saímos do século e nem de nossas casas.
Por fim a
herança. Mas essa é fácil de responder. Primeiro devemos entender que o
testamento de Francisco é espiritual. Não poderia ser diferente. Ele não queria
nada deste mundo e também deseja que aqueles que o seguem também não tenham. O
Pai observa a recomendação do Mestre que diz: “Não ajunteis para vós tesouros
na terra... Ajuntai para vós tesouros no céu... Porque onde está o teu tesouro,
lá também está o teu coração. (Mt 6, 19-21). E onde poderia estar o coração de
Francisco se não com seu Senhor? O tesouro que se ajunta no Céu em vida se
traduz em graças. Francisco conclui assim: “E todo aquele que observar estas
coisas seja no Céu repleto com a benção do altíssimo Pai e, na Terra, repleto
com a benção do seu dileto Filho, com o santíssimo Espírito Paráclito e com
todas as virtudes dos Céus e com todos os santos.” (T 6, 40)
O testamento
norteia os rumos de nossas vidas, aponta para suas pegadas, para o desejo de
Francisco em viver o evangelho segundo a forma inspirada pelo Espírito. Mas
quando no testamento pede que vivamos a Regra e não o testamento, ele sabe que
o Espírito inspira cada um de modo diferente. “Cada um possui um chamada e ele
é particular. A cada um Deus pede uma resposta diferente.” (Pe. Roberto Lettieri
em conversa com a Jufra Frei Leão). O carisma, os passos do mestre, sim,
podemos olhar para o testamento e saber o que seguir e o que esperar, mas a
resposta, a vocação, essa depende do chamado feito, depende de seguir a Regra.
A herança? Essa é a mesma pra todos os filhos do Pai.
Citações
– T= testamento; RB= regra bulada; RNB= regra não bulada; Mt= Evangelho de São
Mateus.
Os
textos de São Francisco foram extraídos das Fontes Franciscanas, Mensageiro de
Santo Antônio. O texto bíblico são traduções da Bíblia Sagrada Ave-Maria.
Murillo Torres
Lopes
Irmão Fraterno
Jufra Frei Leão
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