quarta-feira, 28 de março de 2012

VERDADES E MENTIRAS SOBRE FRANCISCO DE ASSIS

Continuamos respondendo algumas questões corriqueiras a cerca da vida de São Francisco de Assis.

Mas antes de iniciar as próximas linhas, gostaria de fazer uma observação. Alguns de nossos leitores, por um motivo ou outro, podem pensar como um simples blog, de uma fraternidade de juventude franciscana, pode afirmar ou negar alguns pontos ou crenças comuns sobre a vida de São Francisco?
Voltemos ao principio deste blog.
Quando retomamos as atividades do mesmo em agosto de 2011, a nossa intenção era que não publicássemos apenas noticias sobre a nossa fraternidade, mas sim, textos e outras coisas uteis à nossa formação e que pudêssemos compartilhar com outros irmão e irmãs através da web.

Ao empreender a tarefa de levantar algumas verdades e mentiras sobre São Francisco, eu, Wendell, que assino esta coluna, utilizo não apenas meus estudos de formação franciscana, mas também, e com a dose certa, os instrumentos e métodos adquiridos em minha graduação como historiador. Sobre essa prática, vale a pena ressaltar que, ao me propor a escrever algo, utilizo de fontes que, se não estão citadas nessa coluna em questão, é pelo simples fato de tentar facilitar ao máximo a linguagem do texto.

Leituras dúbias ou relativizadoras destas questões que elencamos abaixo sempre existiram e existirão. Nossa proposta é apenas tentar facilitar e esclarecer alguns pontos.
PAZ E BEM!

Wendell Ferreira Blois
subsecretário de formação




Francisco de Assis era um iletrado, analfabeto ou ignorante no sentido intelectual?

Quando lemos em determinados pontos das fontes franciscanas que Francisco pedia que certo frade lesse algo para ele, ou que escrevesse algo, até podemos ter essa falsa impressão.
Mas como sabemos, Francisco provinha de uma família burguesa, o que nos afirma dizer que, ainda que não fosse nenhum gênio intelectual, mesmo assim ele deveria ter noções mais do que básicas de escrita e cálculo, de modo a auxiliar seu pai em seus negócios comerciais.
Outro fato bastante interessante, e que justifica o fato do assissiense pedir a seus confrades para que escrevessem conforme sua inspiração, era a sua debilidade física que desde seus retorno do Oriente só piorava. Só para termos como base, entre escritos e ditados, Francisco de Assis compôs mais cartas, exortações, mensagens e orações do que São Domingos de Gusmão, religioso espanhol e pai dos frades pregadores.


São Francisco foi considerado um penitente pelo fato de se flagelar, de castigar o seu próprio corpo?

Essa é uma das questões mais incoerentes em torno da vida de Francisco.
É inegável que o Seráfico Pai, como um homem próprio do seu tempo, fazia do sacrifício corporal um exercício de aproximação com Deus. Francisco pede, inclusive, perdão ao 'Irmão Corpo' por tê-lo castigado tanto.
Talvez, por isso, a leitura que fazemos a respeito do sentido com que o poverello se utiliza desse termo em suas composições parece ser um tanto quanto equivocado.
O termo original em latim - algo parecido com 'paenitencia' - quer dizer 'estar ou sentir falta'. São Francisco insere esse termo em relação à sua busca incessante de Deus, Aquele de quem ele sente tanta falta.
Como o termo que designa castigo ou flagelação - 'poenitencia' - é bastante parecido com o anterior, ambos foram se conjugando e formando um único termo, mas com significados distintos em sua aplicação temporal.
Portanto, no seu significado original, podemos dizer que São Francisco foi um legitimo 'penitente', no sentido de sentir constantemente falta de Deus e buscá-lo de forma incessante.


As fontes franciscanas contêm toda a verdade em relação à vida de São Francisco?
Muitos leitores desatentos ou desavisados não se atém a essa questão, e se embrenham pelas diversas biografias de São Francisco sem uma prévia introdução para as mesmas.
O estudo das fontes históricas e, portanto, também das fontes franciscanas, nos mostra que todo individuo que escreve algo, escreve sobre uma perspectiva muito própria, com um objetivo mais ou menos definido, e um 'público alvo especifico'. Os principais biógrafos do Seráfico Pai não fogem à regra.
Tomas de Celano, Boaventura de Bagnoregio, e os diversos escritores que se mantem anônimos ou desconhecidos pelo tempo, mas que em sua maioria são considerados de inspiração leonina (referente aos escritos de Frei Leão), tinham seus interesses próprios ao escreverem tais biografias; tinham um interlocutor (leitor) preciso e um método muito próprio para alcançar seus objetivos.
O tempo e os interesses humanos impõem suas sombras sobre o 'homem histórico' chamado Francisco.
Mas há uma fonte muito boa para se conhecer, com alguma precisão, nosso Seráfico Pai : os santos evangelhos!
Pois, se não sabemos ao certo até que ponto as conhecidas biografias de São Francisco foram manipuladas, sabemos que a vida do assissiense foi completamente espelhada no exemplo de nosso senhor Jesus Cristo.
Ainda assim, é muito válido a leitura e o estudo das chamadas fontes franciscanas, de modo a entender a construção do 'personagem' Francisco de Assis pelos mais diversos escritores e seus múltiplos interesses em assim fazê-lo.


Caso haja alguma dúvida ou questão que você queira nos fazer, basta postar um comentário logo abaixo e nós nos esforçaremos para respondê-lo.
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