sábado, 21 de janeiro de 2012

MENSAGEM DO EVANGELHO DOMINICAL


 por Frei Gilmar Vasques Carreira, Ofm
 3º Domingo do Tempo Comum
Evangelho de São Marcos 1,14-20

Jesus inicia sua vida pública; aquele que foi anunciado por João Batista começa a promoção da Boa Notícia fazendo um convite à conversão e a adesão ao Evangelho (Mc 1, 11-15). A conversão envolve uma mudança radical até no próprio modo de pensar, mas além de tudo é preciso crer.
Partindo deste entusiasmo, Jesus passando à beira do mar da Galileia fez um convite vocacional aos seus primeiros apóstolos. Vejamos: Galileia é terra de pessoas simples e muitas vezes desprezadas, mas é aqui que Jesus começa sua Pastoral Vocacional para ensinar que é na pequenez e na simplicidade do dia a dia que ouvimos seu chamado. Ele chamou duas duplas de irmãos: Simão e André (vv 16-17) e Tiago e João (vv 19-20). Eram pescadores, homens simples que estavam trabalhando, não eram desocupados, mas com precisão não desprezaram ao convite do mestre: “Segui-me e eu farei de vós pescadores de homens” (v 17).
Sabemos que com o batismo e nossa profissão de fé, também somos chamados para lançar nossa rede para “pescar homens”. Somos apostólos e nossa rede é a Palavra de Deus e onosso testemunho evangélico; e o mar é o mundo muitas vezes marcado pelas injustiças. Quantos de nossos irmãos vivem na profundidade da dor, da solidão e da miséria provocados por tantos males presentes no mundo contemporâneo; quantos de nossos irmãos estão no fundo do abismo aguardando o lançamento de nossa rede. Por isso à partir do apelo de Jesus à conversão e à vivência da fé, precisamos jogar nossa rede de amor, paz e justiça e arrancarmos nossos irmãos do fundo do abismo. Esta é a nossa missão apostólica, é este o nosso compromisso. Que sejamos todos “pescadores de homens”. 


Frei Gilmar Vasques Carreira, Ofm, é frade franciscano ligado à Custódia do Sagrado Coração de Jesus e vigário da paróquia São Judas Tadeu de Franca-SP. 

TRIBUTO A FREI LEÃO (2)

Frei Leão, esse desconhecido!

Como disse anteriormente, não pretendo utilizar dos recursos que os historiadores dispõem para o desenvolvimento desse trabalho. Mas há um ensinamento de teoria da historia plausível e muito útil na descrição desse projeto. Dizem que a historia é como uma jarro de barro que, lançado para o alto, se estilhaça no contato com o solo. O historiador é aquele que procura os 'caquinhos' e tenta montá-los novamente com alguma perfeição. O grande problema é que alguns pedaços caem muito longe dos outros, o que dificulta o trabalho mais zeloso. Assim também é esse empreendimento.
Isolando a carta em que Francisco se comunica com Frei Leão, bem como a benção que o santo escreve em forma de bilhete a seu companheiro, as primeiras seiscentas paginas das fontes franciscanas¹ não citam diretamente o personagem destas linhas.
Talvez isso se deva as prioridades biográficas, privilégios ou posição hierárquica de seus autores, mas me parece demasiadamente estranho que Tomas de Celano e São Boaventura de Bagnoregio, em oposição aos demais textos que constam nas fontes, não indiquem objetivamente a presença de Frei Leão em seus escritos sobre São Francisco.
Já na primeira biografia escrita por Frei Tomas de Celano, a Vita Prima, encomendada pelo papa Gregório IX para divulgação do iminente exemplo do Seráfico Pai, Frei Leão parece ser esquecido. Mas o maior entrave se dá em torno de outro escrito, Vita Secunda, que sendo encomendado pelo capitulo geral de 1244, na pessoa do ministro-geral Crescenzo de Iesi, teve como fontes os escritos dos frades que conviveram e testemunharam fatos da vida de Francisco, em obediência à demanda capitular.
Dentre os testemunhos enviados, destaca-se o texto original da 'Legenda dos três companheiros', escrita pelos freis Ângelo, Rufino e Leão e, por mais incrível que pareça, nenhum desses frades é citado na biografia escrita por Celano.
Boaventura ascende a ministro-geral e, em oposição aos esforços de Frei Crescenzo e Celano², suspende os relatos biográficos já escritos, bem como os testemunhos enviados para a composição dos mesmos, em prol do estudo de uma nova legenda, escrita pelo próprio Boaventura, que engrandecesse e exaltasse Francisco de Assis.
O fato de não citar Frei Leão parece ser muito claro já que, como veremos mais adiante, os seguidores do nosso personagem se opunham ideologicamente à corrente 'boaventuriana' que privilegiava o letrados, doutores e sacerdotes. Não é de se surpreender o fato de que as legendas de Boaventura dão destaque a frades como Bernardo (ex-cavaleiro e primeiro companheiro de Francisco), Egídio (frade importante na difusão da Ordem na região da Terra Santa), Silvestre (sacerdote) e Antônio (teólogo e grande inspirador dessa corrente).
Passaremos, portanto, para a segunda parte das biografias e relatos que compõem as fontes franciscanas, voltando posteriormente aos escritos de próprio punho de Francisco e que nos indicam algumas luzes para o estudo da vida de Frei Leão.
Mas essas são questões para outras linhas.

Wendell Ferreira Blois
subsecretario de formação
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¹Fontes franciscanas/ [coordenação geral: Dorvalino Francisco Fassini; edição: João Mamede Filho]. Santo André; Mensageiro de Santo Antônio, 2004.
² É valido lembrar que nesse ínterim entre o governo de Frei Crescenzo e Boaventura, esteve à frente da Ordem Frei João de Parma, que de alguma forma, buscava dar continuidade à proposta capitular de 1244.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

TRIBUTO A FREI LEÃO

Frei Leão, esse desconhecido!

Pouco se sabe a respeito de Frei Leão, bem como de outros tantos companheiros de 'primeira hora' de São Francisco de Assis. A dificuldade em se estudar as fontes que de fato tenham algum lastro verídico, atrapalha ainda mais o conhecimento em torno desses frades.
Penso que se São Francisco se inspirava plenamente na vida de Jesus, e os discípulos deste ultimo se encarregaram de perpetuar por escrito seus ensinamentos (os evangelhos), os seguidores do assissiense, por sua vez, não tiveram o mesmo zelo. E os que assim fizeram, em sua maioria, viram suas obras serem destruídas por ordem de São Boaventura, então ministro-geral da Ordem¹, que assim o fez de modo a unificar todo o conhecimento biográfico em torno de Francisco a duas legendas de sua própria autoria.
As biografias, floreios ou legendas que escaparam das chamas desse período, foram devidamente escondidas em determinados conventos. Mas com a ação do tempo, muito desse material se perdeu ou foi mutilado. Além disso, a autoria desses 'códices' são em sua maioria desconhecidas, sendo possível apenas levantar algumas hipóteses.
Eis algumas das dificuldades, caro leitor, ao empreender uma labuta em prol de conhecer ainda mais sobre o frade que dá nome à minha fraternidade e a esse blog: Frei Leão.
Tal empreendimento começou quando o irmão Mateus, em fins de novembro passado, me sugeriu escrever algumas linhas a respeito desse companheiro de São Francisco, que é nosso patrono, porém tão desconhecido. Desde então comecei a pensar em como poderia desenvolver esse trabalho. Logo notei que não haveria outra forma além de me debruçar sobre o calhamaço das fontes franciscanas², e procurar página por pagina as passagens que de alguma forma citassem Frei Leão³. E assim eu fiz!
Tendo já o objetivo claro e os documentos separados, pensei em um método a ser utilizado nesse trabalho. Não pretendo utilizar de um método cientifico, próprio do oficio do qual sou apenas um noviço - o de historiador - mas como franciscano que sou, utilizarei de recursos próprios da narrativa e dos textos que escrevi para este blog até então.
Portanto, não conto com uma bibliografia complexa, mas tão somente com as fontes franciscanas, suas indicações, notas e introduções (o que não é pouco), e da minha própria formação, ideais e convicções. Com isso, levantei algumas hipóteses que, devido à simplicidade desse empreendimento, talvez transpareça algo de errôneo aos mais assíduos estudiosos franciscanos.
Tendo surgido como proposta para um único texto, o estudo em torno de Frei Leão se tornou um pouco mais extenso que o esperado. Com isso, irá compor uma série especial publicada para as festividades do aniversário de 12 anos da fraternidade JUFRA Frei Leão de Franca-SP.

Mas essa é apenas uma introdução. Amanhã tem mais!

Wendell Ferreira Blois
subsecretario de formação
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¹ O período do governo de São Boaventura como ministro-geral vai de 1257 a 1274.
² Fontes franciscanas/ [coordenação geral: Dorvalino Francisco Fassini; edição: João Mamede Filho]. Santo André; Mensageiro de Santo Antônio, 2004.
³ Serviram como fontes dessa pesquisa as primeiras 1051 paginas da edição acima citada das fontes franciscanas, todas devidamente vasculhadas, uma por uma.

Arte e reflexão 4 (3ª TEMPORADA)


“Mas o Senhor disse: Não se impressione com a aparência nem com a altura deste homem. Eu o rejeitei porque não julgo como as pessoas julgam. Elas olham para a aparência, mas eu vejo o coração.” 1Samuel 16,7

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

O Apóstolo Paulo

"Ai de mim, se eu não anunciar o evangelho!" (ICor 9,16)



De grande perseguidor dos cristãos, Paulo se torna o maior difusor do evangelho no primeiro século da era cristã. No episódio da viagem a Damasco, ele se depara com o Cristo ressuscitado, e fica cego. Não era simplesmente uma cegueira fisíca, sua alma estava na escuridão e completamente fechada ao que acabara de ver e ouvir. Era preciso ser purificado, e quando é batizado pelo profeta em Damasco, recobra visão.
Paulo não experimentou um processo longo e demorado de conversão, ele viveu um grande momento em sua vida que foi suficiente para mudar sua posição. Não mudou tão rápido porque era fraco, mudou porque aquela mensagem foi clara demais sobre qual era o verdadeiro salvador.
Tomando o caminho certo, Paulo se torna grande anunciador do evangelho, e é responsável por levar o cristianismo para fora da Palestina. O cristianismo em Paulo ganha proporções estrondosas. Vejo que a mesma força que tinha na perseguição implacável aos cristãos, agora é colocada completamente a serviço da difusão do evangelho. Paulo pregou, operou milagres, sofreu perseguição, em algumas vezes dos próprios cristãos, mas perseverou até o fim.
A importância de Paulo no início da Igreja está no grande anuncio do evangelho, mas também na nova organização que vai dando aos cristãos. A circuncisão era um grande dilema da época, e segundo a carta aos Gálatas, levou até a uma certa discussão entre Pedro e Paulo, mas Paulo afirma que esse já não era um ritual necessário. A circuncisão para o judeu, era como o batismo para os cristãos, o meio pelo qual se era introduzido a fé. E os judeus que aderiam ao cristianismo julgavam necessário que os pagãos convertidos deveriam se circuncidar. Paulo responde a questão com maestria, pois a salvação mediante o seguimento da lei era um costume judeu farisaico, e de fato a salvação estava e está, simples e somente na fé em Jesus Cristo.
Paulo responde a questões que até mesmo os discípulos que tinham convivido com Jesus tinham certa dificuldade em responder.

Nas várias cartas que escreveu, algumas ainda que contestadas por historiadores como sendo de sua autoria, trazem grandes ensinamentos para a fé cristã. São cartas que amenizam conflitos e dão luz a várias questões sociais e políticas como para a comunidade de Corinto; que derrubam diferenças como na carta aos Romanos; quem afirmam a realeza e soberania de Jesus como na carta aos Colossenses e que promovem perdão e liberdade, como na pequena carta a Filêmon. As cartas em si não trazem tantas mensagens que se tenha ouvido dos evangelhos, mas apontam como vivê-lo em plenitude, dão pistas de seguimento fiel ao Cristo, iluminam o caminho para se chegar ao evangelho.
Paulo na primeira carta a comunidade de Corinto compõe um belíssimo texto no capitulo 13, exaltando e enaltecendo o amor, ao mesmo tempo que ensina como amar. Amor que é a base do cristianismo que pregou. Amor que pura e simplesmente constrói comunidade de vida e partilha e leva a salvação.
Não vou transcrever aqui o texto todo, deixo um convite a você leitor que pegue sua Bíblia e leia, saboreie e aproveite dessa belíssima mensagem, que virou tema de músicas e poesias.
Vou me ater somente ao último versículo: "Por ora subsistem a fé, a esperança e a caridade - as três. Porém, a maior delas é a caridade."

Aqui se compõem as virtudes teologais, que vindas de Deus guiam os homens para retornarem a Ele. Mas este é um assunto para os próximos textos.
Como convite, gostaria que cada um de vocês lessem ao menos uma carta de Paulo, um tesouro imenso para toda a Igreja, e na próxima quinta feira continuaremos nossa reflexão. Até lá!

Paz e Bem

Mateus Agostini Garcia
Secretário Fraterno Local

Arte e reflexão 3 (3ª TEMPORADA)

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"Deus não é um ser indiferente ou longínquo, pois não estamos abandonados a nós mesmos. Deus é amor!" João Paulo II