Frei Leão, esse desconhecido!
Como disse anteriormente, não pretendo utilizar dos recursos que os historiadores dispõem para o desenvolvimento desse trabalho. Mas há um ensinamento de teoria da historia plausível e muito útil na descrição desse projeto. Dizem que a historia é como uma jarro de barro que, lançado para o alto, se estilhaça no contato com o solo. O historiador é aquele que procura os 'caquinhos' e tenta montá-los novamente com alguma perfeição. O grande problema é que alguns pedaços caem muito longe dos outros, o que dificulta o trabalho mais zeloso. Assim também é esse empreendimento.
Isolando a carta em que Francisco se comunica com Frei Leão, bem como a benção que o santo escreve em forma de bilhete a seu companheiro, as primeiras seiscentas paginas das fontes franciscanas¹ não citam diretamente o personagem destas linhas.
Talvez isso se deva as prioridades biográficas, privilégios ou posição hierárquica de seus autores, mas me parece demasiadamente estranho que Tomas de Celano e São Boaventura de Bagnoregio, em oposição aos demais textos que constam nas fontes, não indiquem objetivamente a presença de Frei Leão em seus escritos sobre São Francisco.
Já na primeira biografia escrita por Frei Tomas de Celano, a Vita Prima, encomendada pelo papa Gregório IX para divulgação do iminente exemplo do Seráfico Pai, Frei Leão parece ser esquecido. Mas o maior entrave se dá em torno de outro escrito, Vita Secunda, que sendo encomendado pelo capitulo geral de 1244, na pessoa do ministro-geral Crescenzo de Iesi, teve como fontes os escritos dos frades que conviveram e testemunharam fatos da vida de Francisco, em obediência à demanda capitular.
Dentre os testemunhos enviados, destaca-se o texto original da 'Legenda dos três companheiros', escrita pelos freis Ângelo, Rufino e Leão e, por mais incrível que pareça, nenhum desses frades é citado na biografia escrita por Celano.
Boaventura ascende a ministro-geral e, em oposição aos esforços de Frei Crescenzo e Celano², suspende os relatos biográficos já escritos, bem como os testemunhos enviados para a composição dos mesmos, em prol do estudo de uma nova legenda, escrita pelo próprio Boaventura, que engrandecesse e exaltasse Francisco de Assis.
O fato de não citar Frei Leão parece ser muito claro já que, como veremos mais adiante, os seguidores do nosso personagem se opunham ideologicamente à corrente 'boaventuriana' que privilegiava o letrados, doutores e sacerdotes. Não é de se surpreender o fato de que as legendas de Boaventura dão destaque a frades como Bernardo (ex-cavaleiro e primeiro companheiro de Francisco), Egídio (frade importante na difusão da Ordem na região da Terra Santa), Silvestre (sacerdote) e Antônio (teólogo e grande inspirador dessa corrente).
Passaremos, portanto, para a segunda parte das biografias e relatos que compõem as fontes franciscanas, voltando posteriormente aos escritos de próprio punho de Francisco e que nos indicam algumas luzes para o estudo da vida de Frei Leão.
Mas essas são questões para outras linhas.
Wendell Ferreira Blois
subsecretario de formação
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¹Fontes franciscanas/ [coordenação geral: Dorvalino Francisco Fassini; edição: João Mamede Filho]. Santo André; Mensageiro de Santo Antônio, 2004.
² É valido lembrar que nesse ínterim entre o governo de Frei Crescenzo e Boaventura, esteve à frente da Ordem Frei João de Parma, que de alguma forma, buscava dar continuidade à proposta capitular de 1244.
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