"A um irmão leigo que foi pedir sua licença para ter um saltério deu cinza em vez do livro" (2Celano 147, 7)
Um punhado de pó!
É isso que Francisco oferta àquele que lhe pede um livrinho de salmos. O problema não está necessariamente no livro, mas no desejo que o leigo alimenta de 'ter' o mesmo. E o bem-aventurado lhe apresenta as mãos cheias daquilo que nós, em nossa essência, temos fisicamente: as cinzas ou o pó.
Inseridos em uma sociedade de consumo, verbos como 'ter' e 'possuir' nos margeiam constantemente, espreitando nosso 'ser' e nossas convicções.
O que escrevo não é um diagnostico critico da sociedade, ou uma amostra, em corte, da podridão causada pelo sistema de consumo em nosso cotidiano. Não! Seria simples e chato fazer somente isso, mas sim tentar indicar algum caminho ou exemplo, como cristão e franciscano, para agirmos de forma diferente frente as misérias que nos cercam.
Cristo não 'teve' nada, literalmente!
Berço? Não! O menino Deus nasceu numa manjedoura em meio aos animais.
Belas roupas? A divindade feito homem nasceu e morreu envolta em faixas indignas.
Mãe? Jesus deu a sua a nós, míseros consumistas.
Talvez um abraço? Não! Ele estava de braços abertos em uma madeiro e ninguém Lhe retribuiu gesto carinhoso.
Vida? Nem a isso Ele se apegou. Como Senhor da Vida, deu integralmente a sua para e pela humanidade.
E Francisco de Assis? IDEM!
Meus caros, eu entendo a dificuldade que encontramos em nos desemaranharmos de um sistema que, quando nascemos, já havia se desenvolvido plenamente, que nos propõe coisas fantásticas todas as manhãs, que nos oferece o milagre da tecnologia e a benção de inenarráveis avanços.
Afinal, de que tudo isso nos servirá?
Ao término e ao cabo de nossa vidas não seremos mais que um punhado de cinzas, que o irmão Vento, involuntariamente, soprará a seu bel-prazer indiferente do que um dia tivemos ou possuímos.
Wendell Ferreira Blois
subsecretario de formação
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