terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Caminho do calvário III

O mundo exite. Ele é surpreendente porque nele tudo acontece e coexiste. Tudo pode mudar dependendo da atitude que se toma. No meu caso falta a atitude. É estranho ler um texto em primeira pessoa. Dizer o que todos vivem, sabem, o que os outros querem saber é sempre mais convidativo. Mas hoje não sei se sou eu ou se são todos os outros que pensam como eu. Na dúvida vou optar pelo discurso menos atraente, em primeira pessoa.

Além do mundo existe o meu mundo. Um lugar particular onde tudo pode acontecer como eu quero e acho que tem que ser. Muito mais que o desfrute da minha vontade ele é um universo de significados. É nesse mundo que traduzo as experiências do mundo real em palavras de e com Deus. Alguns dizem que Deus não fala. Eu ouço Deus falando comigo neste mundo. Às vezes Ele fala também no mundo material, mas é difícil isso acontecer. Engraçado que apesar do mundo ser meu ,nem sempre consigo entrar nele. É porque esse mundo é um canal de comunicação entre aqui e lá. Sei exatamente como falar com o Altíssimo. Se existe um jeito, formula, modo certo de conseguir isso,eu o encontrei. Embora seja maravilhoso conversar com Deus, é ao mesmo tempo triste. Não por falar com Deus, mas por saber o porquê de naquele momento não conseguir falar com Ele. Como nesse mundo tudo tem um profundo significado o mundo fora tem influência substancial sobre Ele. Também tento transpor o mundo particular para o mundo coletivo. Há sucesso e frustrações. Com o tempo aprendi a lidar com a situação.

O evangelho é intrínseco ao contexto de vida que vivo. Não só ele como a vida de Francisco de Assis, de alguns irmãos que marcam minha história, minha família... Por fim terminamos com o que sabemos: tudo pode interferir na vida do outro. Encaro essa certeza com muita seriedade e doí muito quando vivo no contratestemunho, quando não vivo o que acredito e prego ser o caminho que nos leva a Deus. Melhor descrição de São Tiago 1,6 não haveria pra mim - “Mas peça-a com fé, sem nenhuma vacilação, porque o homem que vacila assemelha-se à onda do mar, levantada pelo vento e agitada de um lado para o outro.” O drama vivido é a covardia.

Às vezes vêm, uns e outros pra justificar a covardia que possuem, dizer que não é possível viver como Francisco ou mesmo como Jesus. Que a realidade social, política, religiosa, cultural são outras. Não há como viver no passado. Claro que não dá pra viver no passado e nem quero isso. Eu não vivo como Jesus mandou, como Francisco viveu, por covardia, por sentir medo. Existe a vida evangélica e o resto. Infelizmente vivo no resto. Esse resto tem traços evangélicos, entretanto não é a totalidade. O resto é o morno (se não me engano do livro de apocalipse), o mais ou menos, o sim e o não, o estar encima do muro, a indecisão. Tenho vontades reprimidas e vontades “covardeadas”. As reprimidas não as faço por saber que são ruins. As “covardeadas” são aquelas que sei ser boas, porem não as faço por covardia. É complicadíssimo sair do século e nele continuar inseridos. Há momentos que nem saio. Por exemplo, numa determinada conversa dizia que não há nada que nos empeça, se for essa nossa vontade, de nos tornar missionário na África. No mesmo instante fui refutado, dizendo que, imagina, como largar tudo aqui e ir pra lá sem ser religioso, que de uma forma ou de outra garante alguma coisa. E quando voltar, como será? Não terá sustento? Não terá “vida” aqui. Não vivemos. Só nos preocupamos com o futuro. Pior, preocupamos com nosso mesquinho futuro. Isso é medo, é covardia, é falta de confiança em Deus e pra alguns é loucura. Doar-se ao próximo, ao menor. Abandonar tudo pra viver o evangelho. Simplesmente não abandonamos, aliás, eu não consegui abandonar ainda. Se estiver errado sobre tudo isso, penso que ainda não encontrei minha vocação. Mesmo assim creio que o franciscano secular pode ser muito mais do que tem feito e sido.

Ainda hoje é possível viver exatamente como Francisco viveu, abandonando o mundo e antecipando o kairós. É só ter coragem de viver assim. Se acha que não leia essa matéria. Conta a história de um homem que abandona o estilo de vida ocidental, regida pelo dinheiro para viver sem ele e de maneira alternativa.

Viver nessa radicalidade implica grandes mudanças pra quem se dispõe viver. Entretanto não podemos negar fatores extras como família, amizades, vida social, dinheiro, vida cômoda... É quase uma escolha onde outros precisam dizer sim e apoiar a decisão junto com você. Cada um tem seu momento.

Pode ser que nunca tenha a coragem necessária pra viver o evangelho 100%. Mas tenho certeza do quero e o que Deus me pede. Meu sim é sim. Meu não é não. Mt 5,37. Deus conhece meu coração. Sei que cada um tem seu momento.

Enquanto isso fito meus olhos para a cruz de gólgota e caminho. Caio. Levanto. Recebo ajuda. Alguns me negam. Batem e zombam pelo que faço. Palavras desencorajadoras não me faltam. Volta e meio atraem minha atenção para o dinheiro, o bom emprego, carro, moto, festas, bebidas, prazeres, luxo, fartura e caio, caio, caio e caio outras e outras vezes. Um longo período no chão, no pó que o diabo guardou pra mim. Meu corpo agora se arrasta. Mas ao comer do Bom-fruto sei que posso me reerguer e retorna ao verdadeiro caminho.

Ninguém nessa vida chegará ao alto do monte. Só Ele nos dará vida plena. Mesmo sabendo que não depende só de mim, e ainda bem que não depende, é preciso fazer a parte que me cabe na história para ao menos merecer a vida em plenitude. Parece que me importo apenas com minha salvação, com meus interesses. Não é isso. Caminhar para Deus torna o mundo mais justo, igualitário, constrói o reino do amor e isso permanece pra todos que já estão e virão a este mundo.

Tudo começou para compreender o que é “construir devagar o teu segredo”. O 5º item do ideal franciscano de vida. Eu tentei focar os textos num único ponto, mas meu segredo por completo só Deus conhece. Eu sigo meu caminho, o calvário. O caminho depende só de mim e de ninguém mais em especial. Agora sou eu agindo, Deus infundindo e nós caminhando. O traço que a cruz faz no chão ao ser arrastada podem outros seguir. Pense bem pra onde possivelmente pode guiar seu irmão e não negue esse fato.

Agora construa você mesmo o seu segredo.

Servo inútil

"Minha ambição, meu ideal, é ser semelhante ao Cristo, devotar-me aos meus irmãos como Ele, amá-los como Ele os amou [...]" Georges Quiclet, La Jeunesse ouvière, 1º de dezembro de 1929.

Ps.: não estou acostumado a escrever, então me desculpem por, em algum momento, os textos serem mal elaborados, incompreensíveis ou pobres de vocabulário. Não quis estender muito o texto e isso pode ter dificultado mais ainda sua compreensão.

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