sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

JUFRA EM MISSÃO (5)

 O Documento de Aparecida nos propõe um caminho para seguirmos mais fielmente a Jesus, como "discipulos e missionários".
Penso que fazemos muito bem o 'papel' de discipulos de Jesus: participamos das mais variadas celebrações de cunho ritualistico e dogmático; ouvimos a palvra de Deus e a meditamos.
Mas, e como 'missionários'?
Entendo que muitas vezes nós nos escondemos por detrás de uma rotina atribulada, e de uma série de desculpas que inventamos, como por exemplo, a da evangelização do trabalho e na escola, que poucos executam de fato, mas que muitos utilizam para justificar suas ações missionárias inexistentes.
A Igreja precisa mais de nós! Aliás, nós precisamos mais de nós mesmos. Porque somos todos nós que, irmanados com o Cristo, formamos o que chamamos de Igreja.
Ao iniciar mais um ano, espero que essas reflexões sirvam de alguma forma, para incomodar e motivar o leitor a fazer algo de mais concreto em favor da fé que professamos, e daqueles que precisam fortalecer sua fé através da evangelização da palavra de Deus.
Sejamos legitimos missionários!


Wendell Ferreira Blois
subsecretário de formação

A atividade Missionária é o maior e mais santo dever da Igreja Católica Apostólica Romana

Muitas pessoas estão sedentas das palavras de Cristo, as únicas que podem dar paz à alma, as únicas que ensinam o caminho do Céu: “Senhor, a quem iríamos nós? Tu tens as palavras da vida eterna” (Jo 6, 68). E a Igreja Católica tem o dever principal de dar a conhecer Jesus Cristo através das missões: “Entre as tarefas de interesse geral, dê particular importância à atividade missionária o maior e o mais santo dever da Igreja” (Cf. Concílio Vaticano II, Decreto “Ad Gentes”, nº 29).
A urgência de dar a conhecer a doutrina de Cristo é muito grande, porque a ignorância é um poderoso inimigo de Deus no mundo e é: “A causa e como que a raiz de todos os males que envenenam os povos” (Cf. Encíclica “Ad Petri Cathedram”, 29-6-1959, do Papa João XXIII). Cada cristão deve dar testemunho – não só com o exemplo, mas também com a palavra – da mensagem evangélica.
O Concílio Vaticano II, Decreto “Ad Gentes”, nº 5, assim expressa sobre esse maior e mais santo dever da Igreja: “O Senhor Jesus desde o início “chamou a Si os que Ele quis, e fez que os doze estivessem com Ele para enviá-los a pregar” (Mc 3, 13). Assim foram os Apóstolos os germes do novo Israel e ao mesmo tempo a origem da sagrada hierarquia. Depois, que por Sua morte e ressurreição completou em Si os mistérios de nossa salvação e da renovação universal, o Senhor obteve todo o poder no céu e na terra. Antes de ser assumido ao céu fundou Sua Igreja como o sacramento da salvação. Como Ele mesmo fora enviado pelo Pai, enviou os apóstolos a todo o mundo, mandando-lhes: “Ide, pois; fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a observar tudo quanto vos mandei” (Mt 28, 19s). “Ide por todo o mundo, e pregai o Evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será condenado” (Mc 16, 15s). Daí o dever que cabe à Igreja de propagar a fé e a salvação de Cristo. Isto em virtude do expresso mandato transmitido pelos Apóstolos ao Colégio dos Bispos, assistidos pelos Presbíteros, junto com o Sucessor de Pedro e Sumo Pastor da Igreja; e ainda em virtude da vida que Cristo infunde em Seus membros. “Por Ele o corpo todo pelo serviço de cada membro se organiza e se mantém firme e a cada órgão vem assinada a sua função peculiar; e destarte vai o corpo crescendo até chegar ao desenvolvimento completo pela caridade” (Cf. Ef 4, 16). Obediente ao mandato de Cristo e movida pela graça e caridade do Espírito Santo, a Igreja cumpre sua missão, quando em ato pleno se faz presente a todos os homens ou povos, afim de levá-los à fé, à liberdade e à paz de Cristo, pelo exemplo da vida, pela pregação, pelos sacramentos e demais meios da graça. E assim se lhes abre um caminho desimpedido e seguro à plena participação do mistério de Cristo”.

MISSÃO E ALTERIDADE


SER MISSIONÁRIA!
Ir. Elaine: primeira da esquerda para a direita
Sou Ir. Elaine Regina e, desde o ano de 2001, sai do seio de minha família para vivenciar um carisma missionário na Congregação das Irmãs Missionárias de Ação Paroquial.

Cada batizado é chamado a ser discípulo missionário a partir da sua opção de vida, ou seja, desde a sua vocação, sendo solteiro(a), casado(a), padre, ou ainda, sendo religiosa(o).
A missão tanto pode ser vivenciada dentro da própria casa como “do outro lado do mundo”. O importante é vive-la com alegria, fidelidade, amor e, principalmente respeito ao outro, ou dito de outro modo, vivenciando a alteridade.
Alguns podem estar se perguntando. “Mas o que quer dizer alteridade?”.
Como Missionária me questiono muito até que ponto a vivência Missionária trás vida e dignidade para as pessoas, por isso, ao concluir o Curso de Ciências da Religião nas Faculdades Claretianas de São Paulo escolhi como tema do meu trabalho de conclusão o tema: Missão e Alteridade: à luz do Evangelho de João 4,4-30.
Respondo a esta pergunta recorrendo a um trecho desse meu trabalho.

ALTERIDADE E MISSÃO!
Atualmente a maioria dos estudos referentes à missão assinala que a alteridade, na época presente, norteia, com ênfase, as reflexões missionárias.
O princípio da alteridade, segundo Levinas1, consiste no respeito para com o outro na sua diferença, principalmente reconhecendo sua dignidade e permitindo que seja ele mesmo, sem impor a ele o modo próprio de ser e agir. Este outro, mais que o próximo é o outro marginalizado, aquele que está clamando por dignidade, o pobre, o fraco. E quantos encontramos nesta situação e em outras semelhantes. Na atualidade respeitar as diferenças ou a diversidade sem impor ao outro, a própria crença, doutrina ou cultura, torna-se imperativo na vivência missionária.
Frei Betto afirma ainda que alteridade “é ser capaz de apreender o outro na plenitude da sua dignidade, dos seus direitos e, sobretudo, da sua diferença. Quanto menos alteridade existe nas relações pessoais e sociais, mais conflitos ocorrem. A nossa tendência é colonizar o outro, ou partir do princípio de que eu sei e ensino para ele. Ele não sabe. Eu sei melhor e sei mais do que ele”.
Antes se tinha a ideia de que a finalidade central da missão era a conversão daqueles que não eram cristãos, hoje, mesmo reconhecendo ser um processo lento e não aderido por todos, nasce um novo olhar acerca da missão. Cresce cada vez mais a consciência de que negar ou encobrir a diversidade é negar a própria essência da missão vivida por Jesus Cristo, que acolheu e respeitou a todos sem exceção.
O encontro de Jesus, que era judeu, com a mulher samaritana, representando todo o povo samaritano, descrito no Evangelho de João 4, 4-30, é um importante instrumento para afirmarmos que a vivência da alteridade é essencial na prática missionária nos tempos atuais.
Ir. Elaine a esquerda
Este encontro demonstrou o quanto o respeito e a acolhida para com a outra pessoa são de fundamental importância na convivência, assim como, na vivência missionária. Jesus ultrapassou todas as barreiras e preconceitos existentes em sua época e a samaritana, por sua vez, numa atitude de acolhimento, dialogou sem reservas, compartilhando sua história, seus medos e suas esperanças.
Longe de desconsiderar a importância dos objetivos e uma preparação prévia para a realização da missão, além das atitudes citadas acima, percebemos que os missionários devem partir da realidade de onde se encontram, pois de nada adianta preparações inflexíveis sem o acolhimento e o olhar para a realidade onde irão atuar. Aqui nasce a alteridade, ou seja, nasce o esforço e a capacidade de ir ao mundo do outro, tal como ele é, acolhendo-o e respeitando-o.
Hoje é visível as mudanças sobre o conceito de missão. Antes as palavras que derivavam da missão eram: sacramentalização, ocidentalização, oferecer, dependência, assistencialismo, sacerdotes, heróis e religiosos. Hoje, com o novo olhar sobre a missão, as palavras que ressoam são: evangelização, inculturação, oferecer e receber, diálogo, protagonismo, promoção humana e libertação, batizados, servos encarnados na realidade.
  As atitudes e as afirmações “eu sei tudo e posso transmitir” e “o outro não sabe, portanto deve somente escutar” já estão superadas ou defasadas. Tanto eu quanto o outro somos capazes de oferecer e de receber. Não existe ninguém que saiba o bastante a ponto de afirmar “não preciso receber”, como também não existe ninguém que não tenha algo a oferecer.
Missão e alteridade representam dois conceitos abrangentes que perpassam a história humana no desejo de partilha, acolhimento, diálogo e, sobretudo, respeito ao outro.

VIVÊNCIA MISSIONÁRIA!
Nós religiosas vivemos nossa missão de acordo com o Carisma específico de nossa Congregação e, pertencendo, como dito acima, à Congregação das Irmãs Missionárias de Ação Paroquial, vivo a missão confiada a mim, na dinamização das comunidades paroquiais.
Atualmente estou morando na cidade de Imperatriz no estado do Maranhão e sou uma pessoa realizada diante da minha escolha.
Procuro diariamente viver a alteridade, pois, a todo o momento estou me encontrando com diferentes pessoas, culturas, modos de viver e olhar o mundo. Sendo diferentes realidades de mim sou chamada a respeitar cada diferença.
Digo uma coisa para vocês: para a vivência da alteridade na missão uma das condições fundamentais é a consciência da própria identidade pessoal, religiosa social e cultural, pois, sem essa identidade definida, é impossível a vivência do diálogo, importante pressuposto da alteridade.
Então podemos dizer que o missionário precisa ter sua identidade bem definida e, ao mesmo tempo, ser aberto ao outro diferente dele. É nessa troca de experiências que a partilha acontece.
Padre Giorgio Paleari apresenta o missionário como um mestre que ensina e que, ao mesmo tempo, nunca deixa de aprender do outro. Ele diz: “Ensina-se e se aprende ao mesmo tempo. Aconselha-se e recebem-se conselhos. Ensina-se o que se sabe, mas partilha-se a partir do saber do outro. (...) É o processo de dar e receber, dizer e escutar, ensinar e aprender. Há momentos em que a escuta é mais fundamental e há momentos em que a palavra deve ser dita. Para dizer a palavra certa no momento certo é necessário que seja dita a partir do horizonte do outro, dentro do mundo das significações de sua cosmovisão (...)”.
E falando em partilha, para terminar, partilho com vocês as sábias palavras de D. Helder Câmara:
Missão é... Partir, caminhar, deixar tudo, sair de si, quebrar a crosta
do egoísmo que nos fecha no nosso eu.
É parar de dar voltas ao redor de nós mesmos,
como se fôssemos o centro do mundo e da vida.
É não se deixar bloquear nos problemas do nosso pequeno mundo a que pertencemos: a humanidade é maior.
Sempre partir, mas não para devorar quilômetros.
É sobretudo abrir-se aos outros como irmãos, descobri-los, encontrá-los.
E, para encontrá-los e amá-los é preciso atravessar mares e voar lá nos céus, então missão é partir até os confins do mundo.


Foi uma grande alegria partilhar com vocês um pouquinho sobre este tema tão amplo.
Desejo a todos os(as) missionários(as) daqui de perto e de longe uma MISSÃO repleta das Bênçãos de Deus.
Com carinho, Ir. Elaine Regina Marcelino, map.

1 “Emmanuel Levinas é filósofo lituano, de origem judaica. Nasceu em 1903 e morreu em 1995. Em 1939, naturalizou-se francês e, em 1940, foi preso e levado para a Alemanha. Seus familiares, que ficaram na Lituânia, foram massacrados pelos nazistas” (ARDUINI, 2002, p.106).

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

JUFRA EM MISSÃO (4)

Nossa reflexão de hoje se dirige mais especificamente aos jovens, e principalmente os jufristas. Penso que a JUFRA em seus mais variados níveis de organização e documentos que a regem, se porta muito bem como discipulo, tanto de Cristo quanto do Serafico Pai Francisco.
Mas como vão nossos gestos e trabalhos missionários? Lembro que isso não tem haver necessariamente com nossos trabalhos pastorais ou ministeriais (talvez indiretamete).
Proponho esse questionamento, pois em seu Manifesto, a JUFRA se propõe a ser um presença provocadora, motivadora, tranformadora. Talvez falte apenas algumas orientações de como unir tudo isso ao anseio da Igreja, expresso no texto abaixo, sendo jovens que seguindo a São Francisco, nos façamos tão bons missionarios como temos sido discipulos.
Pensemos nisso!

Wendell Ferreira Blois
subsecretario de formação

MISSÃO: Dever dos adolescentes e jovens

No Concílio Vaticano II, Decreto “Apostolicam Actuositatem”, nº 30 diz: “De modo especial no entanto iniciem-se no apostolado os adolescentes e jovens, imbuindo-se deste espírito apostólico”.
Na Exortação Apostólica do Papa Paulo VI, “Evangelii Nuntiandi”, nº 72 diz: “As circunstâncias de momento convidam-nos a prestar uma atenção muito especial aos jovens. O seu aumento numérico e a sua crescente presença na sociedade e os problemas que os assediam devem despertar em todos o cuidado de lhes apresentar, com zelo e inteligência, o ideal evangélico, a fim de eles o conhecerem e viverem. Mas, por outro lado, é necessário que os jovens, bem formados na fé e na oração, se tornem cada vez mais os apóstolos da juventude. A Igreja põe grandes esperanças na sua generosa contribuição nesse sentido; e nós próprios, em muitas ocasiões, temos manifestado a plena confiança que nutrimos em relação aos mesmos jovens”.
Na mensagem para o IX e X Dia Mundial da Juventude, 21-11-1993, 3, o Papa João Paulo II disse: “Sobretudo vós, jovens sois chamados a tornar-vos missionários da Nova Evangelização, testemunhando cotidianamente a Palavra que salva”. E na Homilia da Missa conclusiva da VIII Jornada Mundial da Juventude, Denver, 15-8-1993, o Papa João Paulo II disse: “E, do mesmo modo, que não tenham medo de evangelizar nas praças e nas ruas como os primeiros Apóstolos, de tornar Cristo conhecido nas modernas metrópoles. Este não é o momento de se envergonharem de testemunhar o Evangelho (Cf. Rm 1, 16) “por cima dos tetos” (Mt 10, 27)”.

Amanhã encerraremos as reflexões com o tema:
"A atividade Missionária é o maior e mais santo dever da Igreja Católica Apostólica Romana "

AINDA SOBRE ... 'MISSÕES'!




Alguém pode se perguntar, a principio, o que essa tirinha tem haver com o tema "Missões"?!
Penso que no contexto em que essa tematica será desenvolvida pela fraternidade de Jufra local (Frei Leão - Franca-SP)  a proposta da tirinha é muito oportuna. Vejamos o porque!

Em julho de 2010, a convite de um frade, o irmão Mateus e eu, participamos de uma experiencia missionária da região de São Roque de Minas (Serra da Canastra-MG), juntamente com um grupo de aproximadamente 30 religiosos, homens e mulheres, das mais variadas ordens e congregações. 
Uma experiência, sem duvida inesquecível, tendo em vista que, quando nos colocamos a disposição dessa experiencia pensavamos o que poderiamos 'ensinar' ou apresentar àquele povo que, durante esse trabalho, se mostrou tão carente de Deus, carente de atenção, de carinho fraterno. 
Por fim aprendemos algo muito interessante e importante: que muitas vezes não é necessário falar ou ensinar nada, pois o simples gesto de ouvir, de dar atenção a quem quer desabafar algo, partilhar suas dificuldades e experiências, já é o suficiente.

Pois bem. Retornando a Franca, tive oportunidade de partilhar um pouco dessa experiencia com frei Carlos,OFM, pároco da igreja São Judas Tadeu. E, contando um pouco sobre as pessoas com as quais convivi, bem como os problemas com os quais me deparei (ex: grande indice de idosos depressivos e o número alarmante de suicidios naquela região), ouvi a seguinte interrogação:
- Você foi tão longe para descobrir isso? 

Não sabia o que falar, pois de fato situações muito semelhantes também se davam na comunidade paroquial na qual a Jufra está presente, mas muitas vezes não nos damos conta delas.
E foi pensando nisso, somando outros fatores, que a fraternidade frei Leão, durante esse mês de janeiro irá desenvolver esse trabalho missionário. Em resposta as palavras de Jesus: "Ide por todo o mundo, e pregai o evangelho a toda criatura." Mas lembrando, que o mundo começa do nosso lado, sem a necessidade de irmos tão longe!

Paz e bem!

Wendell Ferreira Blois
subsecretario de formação

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

JUFRA EM MISSÃO (3)

Já algum tempo a Igreja promove um debate em torno da importância e da necessaidade da criação de uma consciência missionária, não apenas do clero, mas também de seu rebanho laical. E é nesse sentido que direcionamos a nossa reflexão de hoje.
Creio que ainda faz parte de um pensamento subconciente de nós católicos, que a Igreja como organização de pedra e como organização concreta do plano de Jesus no mundo material, é simplesmente gerida pelo clero e religiosos em geral. O mesmo se aplica à temática MISSÕES!
O texto de hoje nos indica justamente o contrário: o leigo deve se fazer Igreja, de forma a tomar, por vezes, frente em algumas situações, inclusive como missionário.
Boa leitura!

Wendell Ferreira Blois
subsecretario de formação


MISSÃO: Dever dos leigos em geral

Nenhum leigo pode permanecer de braços cruzados dentro da Igreja, todos são chamados a serem missionários, a cooperar na evangelização para o crescimento do Reino de Deus: Cooperam os leigos na obra evangelizadora da Igreja, e ao mesmo tempo como testemunhas e instrumentos vivos participam da sua missão salvífica, principalmente quando chamados por Deus, são escalados para essa obra pelos bispos.
Nas terras já cristãs, os leigos colaborem na evangelização, fomentando em si e nos outros o conhecimento e o amor das missões, despertando as vocações na própria família, nas associações católicas e nas escolas, oferecendo subsídios de todo gênero, a fim de outros obterem o dom da fé, que eles mesmos de graça receberam.
E nas terras de missões, os leigos,ensinem nas escolas, administrem os bens temporais, colaborem na atividade paroquial e diocesana, fundem e promovam várias formas de apostolado leigo, para poderem os fiéis das novéis Igrejas quanto antes assumir a parte própria na vida da Igreja” (Concílio Vaticano II, Decreto “Ad Gentes”, Nº 41).
Na Exortação Apostólica de João Paulo II, “Chistifideles Laici”, nº 35 diz: “A ação dos fiéis leigos, que, aliás, nunca faltou neste campo, aparece hoje cada vez mais necessária e preciosa. Na verdade, a ordem do Senhor “Ide por todo o mundo” continua a encontrar muitos leigos generosos, prontos a deixar o seu ambiente de vida, o seu trabalho, a sua região ou pátria, para ir, ao menos por um certo tempo, para zonas de missão”. E na Encíclica de João Paulo II, “Redemptoris Missio”, nº 71 diz: “Aliás, a participação dos leigos na expansão da fé é clara, desde os primeiros tempos do cristianismo, tanto a nível de indivíduos e familiares, como da comunidade inteira”.

Continuando nossas reflexões...
amanhã com o tema "MISSÃO: Dever dos adolescentes e jovens"

CORAÇÃO MISSIONÁRIO

por Frei Osvaldo Maffei, OFM - exclusivo para o blog "Frei Leão"

O coração missionário não tem nome, não tem local, não tem carro, não tem rumo, apenas possuiu um único morador, Jesus Cristo. Ele é o único habitante deste coração. Ele é o único dono, e é por ele e nele que tudo se torna possível. O coração missionário é aquele que de tanto amor desejou entregar até o próprio coração para que, sendo de Cristo, pudesse fazer aquilo que o Senhor suscitar.
O coração missionário não se apega a pequenas coisas, mas percebe nelas a grandeza do amor de Deus. Este coração que tanto falo é um coração que não tem nome, muito menos pertence a um povo. Este coração só pode ser cristão. Eis que o Senhor nos deixou um legado, o do amor. Santo Agostinho afirma “ama e faze o que queres”. Aquele que ama, ama simplesmente. O amor tudo suporta, tudo vence. É este o conteúdo do coração missionário.
Haveria outra explicação para tal empenho e tamanha dedicação. Tenho encontrado missionários que já estão longe de sua pátria há 10, 20, 40 anos. Tudo porque neles existe um coração missionário.
Em terras Angolanas a vida do missionário é constantemente posto a prova, prova esta que se equipara aquela da transformação e valoração do ouro. O ouro para se tornar belo e radiante passa inúmeras vezes pelo fogo. O coração missionário também passa pelo fogo. Fogo do desconforto, da insegurança, da saudade da família, da falta de energia elétrica, do calor intenso, da burocracia nas documentações. Mas, a tudo isso o coração missionário vence, não porque ele pulsa dentro de um peito forte e sim por ser habitado pelo Espírito do Senhor e seu santo modo de operar.
O coração missionário, e, agora acrescento, franciscano, busca forças nas águas mais entranhadas da fonte límpida que brota da mesa eucarística. Sim, é a oração, a grande força e energia revitalizadora do coração missionário. Sem a oração facilmente se entraria em crise e as dificuldades superariam a fineza da alma atrelada a de Cristo.
Na experiência em que estou a viver de missão em Angola, onde os frades franciscanos há duas décadas estão, pude perceber o cuidado e a dedicação para com a oração. Assim é o coração missionário franciscano, ancora sua embarcação aos pés do altar e dalí não arreda o pé. Este espírito de oração e devoção, o qual o nosso seráfico Pai aspirava que seu frades vivessem, ainda hoje é forma viva no coração missionário.
Certa vez, conta a tradição franciscana, que o Seráfico Pai convidou um dos irmãos a pregar na cidade. Rumaram-se ambos para a estrada que levava ao vilarejo. Dois irmãos com hábito pobre caminhavam lado a lado, sem pressa, porém com passos firmes. Após uma jornada de algumas horas, certamente estavam cansados, pois haviam percorrido toda a cidade. Silenciosamente ambos voltaram para o seio da fraternidade. Assim que chegaram exaustos, o irmão que Frei Francisco havia convidado indagou o móvito de não tinham pregado. O santo homem olhou generosamente para o irmão e com palavras doces e firmes assegurou-o que haviam sim pregado aquela manhã toda, por meio de suas vidas.

Eis o espírito de oração e devoção que nos ensina nosso Seráfico Pai. Não são as palavras e sim os exemplos, não são as grandes oratórias e sim o testemunho. Eis o modo de ser missionário franciscano. O coração missionário franciscano mesmo com a boca fechada anuncia ao mundo a generosidade do coração divino.
Quero aqui relatar um fato que me deixou comovido. Estava a visitar meus confrades em uma das casas da missão quando fui convidado por um irmão a dar uma volta pela região. Ansiosamente aceitei e naquela Toyota velha, penso que seja a mais velha da missão, ainda do tempo da guerra, segurando daqui apoiando de lá, ia atentamente conhecendo a região. Porém, o que me causou admiração não foi o externo do carro 4x4, e sim aquele confrade que por onde passava ia chamando a uns, provocando a outros. Às mamas com feixe de lenha na cabeça e um miúdo amarrado nas costas ele carinhosamente gritava: “Boa tarde mama, como é?” e elas com um sorriso correspondendo ao carinho recebido diziam, “bom dia pai, vou bem, obrigado!”
O reino de Deus é isso, amor cordial, amor de pai, amor de mãe, amor de filhos. Assim é o coração missionário que com generosidade antes mesmo de enxergar os defeitos e espinhos dos outros, percebe a bela rosa que está por florir. O coração missionário não coloca a sua vontade por primeiro e sim aquele do coração de Deus.
Frei Simão Lagiski, que durante 10 anos foi missionário em Angola, mesmo de idade avançada não quis deixar a missão, com força e fé continuou, até o dia em que foi levado as pressas ao Brasil para um tratamento, de onde fez sua passagem para a casa do pai. Como a dele há muitas histórias que poderia ser contadas aqui de missionários que deram a vida por causa do Reino.
Por onde passar irá ver as maravilhas de um povo rico em cultura e diversidade. Por onde seus pés pisar irá conhecer as maravilhas que Deus te revela. Por onde o coração missionário for o Senhor estará com ele e lhe apontará as suas maravilhas.
O coração missionário franciscano por onde passa deixa marcas profundas, marcas estas que transformam as folhas secas, tristes e podres em adubos que enriquecem o solo para receber a semente da missão. Por onde tenho andado em Angola tenho percebido algo de muito especial, o respeito para com o missionário. O missionário vem para ser instrumento de paz. Vem trazendo na bagagem muita boa vontade e força para promover a transformação social. Do mesmo modo, o coração missionário, seja em terras angolanas ou em qualquer parte deste planeta faz a mesma coisa. Leva o amor consigo. Amor este que fortalece e alimenta a locomotiva do Reino de Deus.


Frei Osvaldo Maffei, OFM nasceu em Jaguapitã (PR), é frade menor da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil. Licenciado em Filosofia pelo Instituto de Filosofia São Boaventura – FAE Centro Universitário (Curitiba-PR). Atualmente é graduando do curso de Teologia no Instituto Teológico Franciscano (ITF). Pesquisador da área de Pedagogia e Formação Franciscana. Seu site é www.freimaffeiofm.com.br