SER MISSIONÁRIA!
Ir. Elaine: primeira da esquerda para a direita |
Cada batizado é chamado a ser discípulo missionário a partir da sua opção de vida, ou seja, desde a sua vocação, sendo solteiro(a), casado(a), padre, ou ainda, sendo religiosa(o).
A missão tanto pode ser vivenciada dentro da própria casa como “do outro lado do mundo”. O importante é vive-la com alegria, fidelidade, amor e, principalmente respeito ao outro, ou dito de outro modo, vivenciando a alteridade.
Alguns podem estar se perguntando. “Mas o que quer dizer alteridade?”.
Como Missionária me questiono muito até que ponto a vivência Missionária trás vida e dignidade para as pessoas, por isso, ao concluir o Curso de Ciências da Religião nas Faculdades Claretianas de São Paulo escolhi como tema do meu trabalho de conclusão o tema: Missão e Alteridade: à luz do Evangelho de João 4,4-30.
Respondo a esta pergunta recorrendo a um trecho desse meu trabalho.
ALTERIDADE E MISSÃO!
Atualmente a maioria dos estudos referentes à missão assinala que a alteridade, na época presente, norteia, com ênfase, as reflexões missionárias.
O princípio da alteridade, segundo Levinas1, consiste no respeito para com o outro na sua diferença, principalmente reconhecendo sua dignidade e permitindo que seja ele mesmo, sem impor a ele o modo próprio de ser e agir. Este outro, mais que o próximo é o outro marginalizado, aquele que está clamando por dignidade, o pobre, o fraco. E quantos encontramos nesta situação e em outras semelhantes. Na atualidade respeitar as diferenças ou a diversidade sem impor ao outro, a própria crença, doutrina ou cultura, torna-se imperativo na vivência missionária.
Frei Betto afirma ainda que alteridade “é ser capaz de apreender o outro na plenitude da sua dignidade, dos seus direitos e, sobretudo, da sua diferença. Quanto menos alteridade existe nas relações pessoais e sociais, mais conflitos ocorrem. A nossa tendência é colonizar o outro, ou partir do princípio de que eu sei e ensino para ele. Ele não sabe. Eu sei melhor e sei mais do que ele”.
Antes se tinha a ideia de que a finalidade central da missão era a conversão daqueles que não eram cristãos, hoje, mesmo reconhecendo ser um processo lento e não aderido por todos, nasce um novo olhar acerca da missão. Cresce cada vez mais a consciência de que negar ou encobrir a diversidade é negar a própria essência da missão vivida por Jesus Cristo, que acolheu e respeitou a todos sem exceção.
O encontro de Jesus, que era judeu, com a mulher samaritana, representando todo o povo samaritano, descrito no Evangelho de João 4, 4-30, é um importante instrumento para afirmarmos que a vivência da alteridade é essencial na prática missionária nos tempos atuais.
Ir. Elaine a esquerda |
Longe de desconsiderar a importância dos objetivos e uma preparação prévia para a realização da missão, além das atitudes citadas acima, percebemos que os missionários devem partir da realidade de onde se encontram, pois de nada adianta preparações inflexíveis sem o acolhimento e o olhar para a realidade onde irão atuar. Aqui nasce a alteridade, ou seja, nasce o esforço e a capacidade de ir ao mundo do outro, tal como ele é, acolhendo-o e respeitando-o.
Hoje é visível as mudanças sobre o conceito de missão. Antes as palavras que derivavam da missão eram: sacramentalização, ocidentalização, oferecer, dependência, assistencialismo, sacerdotes, heróis e religiosos. Hoje, com o novo olhar sobre a missão, as palavras que ressoam são: evangelização, inculturação, oferecer e receber, diálogo, protagonismo, promoção humana e libertação, batizados, servos encarnados na realidade.
As atitudes e as afirmações “eu sei tudo e posso transmitir” e “o outro não sabe, portanto deve somente escutar” já estão superadas ou defasadas. Tanto eu quanto o outro somos capazes de oferecer e de receber. Não existe ninguém que saiba o bastante a ponto de afirmar “não preciso receber”, como também não existe ninguém que não tenha algo a oferecer.
Missão e alteridade representam dois conceitos abrangentes que perpassam a história humana no desejo de partilha, acolhimento, diálogo e, sobretudo, respeito ao outro.
VIVÊNCIA MISSIONÁRIA!
Nós religiosas vivemos nossa missão de acordo com o Carisma específico de nossa Congregação e, pertencendo, como dito acima, à Congregação das Irmãs Missionárias de Ação Paroquial, vivo a missão confiada a mim, na dinamização das comunidades paroquiais.
Atualmente estou morando na cidade de Imperatriz no estado do Maranhão e sou uma pessoa realizada diante da minha escolha.
Procuro diariamente viver a alteridade, pois, a todo o momento estou me encontrando com diferentes pessoas, culturas, modos de viver e olhar o mundo. Sendo diferentes realidades de mim sou chamada a respeitar cada diferença.
Digo uma coisa para vocês: para a vivência da alteridade na missão uma das condições fundamentais é a consciência da própria identidade pessoal, religiosa social e cultural, pois, sem essa identidade definida, é impossível a vivência do diálogo, importante pressuposto da alteridade.
Então podemos dizer que o missionário precisa ter sua identidade bem definida e, ao mesmo tempo, ser aberto ao outro diferente dele. É nessa troca de experiências que a partilha acontece.
Padre Giorgio Paleari apresenta o missionário como um mestre que ensina e que, ao mesmo tempo, nunca deixa de aprender do outro. Ele diz: “Ensina-se e se aprende ao mesmo tempo. Aconselha-se e recebem-se conselhos. Ensina-se o que se sabe, mas partilha-se a partir do saber do outro. (...) É o processo de dar e receber, dizer e escutar, ensinar e aprender. Há momentos em que a escuta é mais fundamental e há momentos em que a palavra deve ser dita. Para dizer a palavra certa no momento certo é necessário que seja dita a partir do horizonte do outro, dentro do mundo das significações de sua cosmovisão (...)”.
E falando em partilha, para terminar, partilho com vocês as sábias palavras de D. Helder Câmara:
Missão é... Partir, caminhar, deixar tudo, sair de si, quebrar a crosta
do egoísmo que nos fecha no nosso eu.
É parar de dar voltas ao redor de nós mesmos,
como se fôssemos o centro do mundo e da vida.
É não se deixar bloquear nos problemas do nosso pequeno mundo a que pertencemos: a humanidade é maior.
Sempre partir, mas não para devorar quilômetros.
É sobretudo abrir-se aos outros como irmãos, descobri-los, encontrá-los.
E, para encontrá-los e amá-los é preciso atravessar mares e voar lá nos céus, então missão é partir até os confins do mundo.
Foi uma grande alegria partilhar com vocês um pouquinho sobre este tema tão amplo.
Desejo a todos os(as) missionários(as) daqui de perto e de longe uma MISSÃO repleta das Bênçãos de Deus.
Com carinho, Ir. Elaine Regina Marcelino, map.
1 “Emmanuel Levinas é filósofo lituano, de origem judaica. Nasceu em 1903 e morreu em 1995. Em 1939, naturalizou-se francês e, em 1940, foi preso e levado para a Alemanha. Seus familiares, que ficaram na Lituânia, foram massacrados pelos nazistas” (ARDUINI, 2002, p.106).
Muito,bem irma Elaine... Nossa vida de missionários deve sempre passar pela ética e respeito as diferenças.Nossa missão é antes de tudo ir ao encontro dos necessitados desde sua realidade buscando fazer com eles uma partilha que edifique e da a dignidade a vida.Parabéns pela reflexao.
ResponderExcluirIr.Luiz Fernando sc.