Geralmente, como cabeçalho das entrevistas, dizemos com sinceridade sobre nossa alegria e satisfação em publicar esta coluna tendo a oportunidade de conhecer um pouco melhor irmãos e irmãs tão especiais para todos nós.
Hoje ainda é mais especial!
Pois entrevistamos um frade que, com seus textos e opiniões sempre muito claras, inspira o trabalho deste blog.
Entrevistamos Frei Almir Ribeiro Guimarães, Ofm.
Tenha certeza que não foi fácil, pois começamos essa entrevista em meados de novembro, e respondida ao longo dos meses seguintes, pergunta por pergunta.
Dispensaremos apresentações. Para os que ainda não o conhecem, segue o link de sua biografia (http://www.franciscanos.org.br/v3/almir/biografia/index.php).
Boa leitura!
Blog Frei Leão - O leitor mais atento de seus artigos e reflexões pode notar algumas caracteristicas pontuais e que se repetem em sua maioria, com por exemplo. o fato de que o desenvolvimento da ideia central se dá através de grandes paragrafos, interligados entre si, mas que ao mesmo tempo apontam uma subideia por si só, todos organizados numericamente e dando ao fim, uma conclusão que liga todos os pontos anteriormente levantados. O que o motiva a escrever?
Frei Almir - Sou um frade menor há mais de 50 anos.
Não fui um estudante brilhante de filosofia e teologia.
Bem cedo, aos 30 anos, já me ocupava da Folhinha do Sagrado Coração de Jesus e de livros pequenos para as Vozes (editora).
Fui forçado a escrever.
Por vezes sofro quando não posso escrever.
Minha preocupação é a de comunicar-me, de empurrar à porta do coração e da intimidade das pessoas.
Quem sabe escrevo porque sou carente...
Escrevo sobre a vida... aprendi a olhar a família... tenho uma paixão por tudo aquilo que está ligado à figura de Francisco e Clara. Quero que todos saibam que eles são atuais... quero que todos os que fazem a profissão não esqueçam de “incorporar” Francisco e Clara.
Escrevo porque gosto de escrever.
Gosto de escrever e de falar o que escrevo.
Um dos bons momentos de minha vida é quando gravo as crônicas para a Rádio Jovem Pan em torno do tema da família.
No site da Província escrevo com particular paixão as reflexões do Sabor da Palavra e os temas do Tirando do Baú...
De formação sou um catequista.
Blog Frei Leão - Quais são suas influências intelectuais?
Frei Almir - Sou influenciado pelos franceses... estudei na França....Li muita coisa deles... No campo franciscano: Eloi Leclerc, Michel Hubaut...Gosto do modo como os franceses abordam a fé....me sinto à vontade com eles...Gosto de ler as cartas pastorais dos franceses e italianos... Tive um certo contato com os dominicanos franceses... Um frade menor francês Theophile Desbonets me impressionou. Não sou um intelectual. Procure dizer as coisas da vida e da fé em prosa poética. Repito: escrever para mim é uma necessidade...quase uma dependência para sobreviver. Hoje estou muito afeiçoado a um padre suíço que já morreu: Maurice Zundel.
Blog Frei Leão - Quais 'métodos' você utiliza?
Frei Almir - Gosto de partir de uma experiência humana que se vive: amizade, perplexidade, fugacidade, fraternidade.
Procuro, muitas vezes um pensamento chave para começar e para terminar.
Faço um esquema....em geral nas viagens de ônibus... rabisco o artigo em tópicos. Depois leio e releio. Procuro textos que possam corroborar com o que estou escrevendo... E, devido aos prazos que me dou, a coisa precisa sair, e sai....
Não costumo reler o que escrevo, sobretudo quando de sua publicação...Acho tudo tão estranho e incompleto!!!
Aprendo a escrever... escrevendo e pensando... por vezes escrevo mais do que penso.
Gosto de numerar os parágrafos.
Muitos de meus textos são usados em reuniões da OFS. Quando os parágrafos são numerados podem ser localizados e encontrados.
Procuro não escrever textos longos. Por vezes, porque não sei direito onde quero chegar, escrevo demais.
Procuro sempre iluminar meus textos com o pensamento franciscano.
Blog Frei Leão - Como se dá a 'confecção' desses textos?
Frei Almir - Há certas páginas que tem um certo esquema padrão.... em outras sou mais livre... Há dias em que escrevo, releio e pronto... Outros dias não gosto... deleto... recomeço... quase sempre o melhor texto foi o primeiro de todos. Há rabisco... há o fazer o texto... os melhores faço entre 5:30 e 7:00 hrs da manhã. Sou matinal!
Blog Frei Leão - Por que ser um franciscano secular hoje?
Frei Almir - Ser franciscano é uma questão de vocação, de um chamamento. Ser franciscano (secular ou não) é desejar seguir o carisma de Francisco de Assis.
Na realidade não seguimos o carisma de Francisco que foi especificamente dele. Em outras palavras, trata-se de colocar os passos nos passos de Cristo vivo e ressuscitado como caminho, verdade, vida, pastor, porta, água e tudo à maneira de Francisco, contemplando o Deus pobre, menor, andarilho missionário, dizendo pela vida e pelas palavras que o amor precisa ser amado. Os franciscanos são discípulos de um homem ardoroso, que tinha um fogo, um ardor, era seráfico. Os franciscanos gostam de estar com os homens, mas sentem saudades das grutas, do silêncio, no aconchego da contemplação e, ao mesmo tempo, não estão felizes se não podem lavar os pés dos homens... se não podem servir... Alguém pode querer ser franciscano secular para ser um ardoroso missionário de Cristo à maneira de Francisco no mundo, na sociedade, no trabalho e na família. Esses cristãos chamados franciscanos reconstroem a Igreja através de uma vida evangélica, simples, generosa, exalando o perfume do evangelho. Imagino a beleza da vida de um jovem que desde cedo vai formando sua personalidade espiritual interior a partir de Francisco! O mundo precisa de homens e mulheres que refaçam em sua vida o carisma de Francisco e dos franciscanos. Não se entra para a OFS ou JUFRA como se entra num grupo qualquer... A Fraternidade é um seio onde se gera o franciscano. Insisto: o franciscano secular não é alguém religioso à maneira dos frades ou das clarissas, mas vive no mundo, no século, no trabalho. Impregna o mundo com o vigor franciscano. Ser franciscano secular é seguir Cristo no meio do mundo à maneira de Francisco.
Blog Frei Leão - Temas relacionados à 'família' e à convivência familiar são muito recorrentes em sua publicações da revista eletrônica da Provincia, mas particularmente em sua 'coluna' "Tirando do baú...coisas novas e velhas".Por que a família é tão importante?
Frei Almir - Ninguém vem ao mundo sozinho. Um homem e uma mulher se amam, se escolhem, se casam, se entregam para sempre num jogo de amor verdadeiro. Eles se unem na força do amor e, os cristãos se dão o sacramento do matrimônio. Desse amor humano forte e elevado à condição de sinal do Reino nascem os filhos. A família passa a ser uma comunidade de vida e de amor, espaço de encontro, lugar de acolhida. Marido, mulher e filhos, e tios e avós vivem as tradições de seus antepassados e crescem juntos diante de Deus e dos homens. Rezam juntos, comem juntos, riem juntos...Não se pode crescer cristã e humanamente sem família. Ali as pessoas aprendem a viver os valores: ajuda mútua, amor pelos idosos e pelos doentes, dedicação sem desejo de retribuição. A família é escola de solidariedade. As pessoas estão se casando de qualquer jeito e vivem quase o inferno em suas famílias... se odeiam, se digladiam...os amantes matam as amadas... crianças são sufocadas... e meninos de 15 anos ajudam a estourar caixas eletrônicos... tudo isso porque não tiveram família. Sonho com o dia em que muitas famílias e famílias jovens façam parte das fileiras do Ordem Franciscana Secular.
Blog Frei Leão - Em 2011 se realizou pela primeira em solo sul-americano o Capitulo Internacional da OFS, reunindo a presidência do CIOFS, capitulares de todo o mundo e membros da fraternidade nacional. O que você destaca nesse encontro? Quais definições deste capitulo você considera mais importantes para a fraternidade nacional? Quais sentimentos e emoções você guardará em sua memoria? Qual momento do capitulo você destaca em suas recordações?
Frei Almir - O clima de um capítulo internacional é sempre muito especial. Sentimos a importância e o peso da Ordem e seu caráter universal. A Ordem está se tornando muito presente na Ásia e na Oceania, bem como na Europa Central. Parece ter menos expressão na Europa ocidental. Na América latina já teve maior expressão.
O tema do capítulo foi “Evangelizados para evangelizar”.
Houve colocações interessantes e testemunhos bonitos. O tema, no entanto, poderia ter sido melhor explorado... Poderia ficar mais claro tanto o 'evangelizar-se' como o 'evangelizar'.
Foi dada uma ênfase ao tema da família. Deseja-se que muitas famílias possam beneficiar-se da riqueza da Ordem...e parece importante que os irmãos e irmãs de nossas fraternidades trabalhem em cursos de noivos, acompanhem casais e façam de tal forma que a família ganhe um pouco as cores franciscanas.
Há um empenho de levar o franciscanismo dos seculares à África e China. Houve testemunhos bonitos.
Houve tempo considerável consagrado à JUFRA. Tem-se a impressão que em alguns lugares há um belíssimo modo de viver entre OFS e JUFRA. Trabalham juntos. Fazem juntos parte da reunião geral.
Os brasileiros souberam acolher esses irmãos. Todos certamente ficarão com saudade do Capítulo de São Paulo.
Insistiu-se muito numa maior comunicação entre as Fraternidades nos diferentes níveis.
Teria eu esperado uma análise mais detalhada a respeito da OFS na conjuntura eclesial e social de nosso tempo. Há dois temas que me parecem fundamentais: a formação de um laicato maduro e a questão da expressão que tem a OFS hoje na sociedade e na Igreja.
Blog Frei Leão - Francisco continua encantando os jovens. Quais seriam algumas características a respeito do tema da juventude e franciscanismo que você poderia destacar?
Frei Almir - Todos nós, franciscanos, esperamos que possam existir sólidas e vigorosas fraternidades de jovens. Penso de modo particular na JUFRA. Tenho sempre esperança que em cada local onde existe uma fraternidade da Ordem I (OFM) e da Ordem III (OFS) haja também um grupo de jovens se adentrando no jeito franciscano de ser e de viver.
Para tanto me parece fundamental a reunião, de preferência quinzenal, como sinal do carinho e do amor entre os irmãos. Um momento de oração denso, com salmos, silêncio, entrega da vida...Penso em momentos de escuta da Palavra. Que um membro da fraternidade, ou o assistente, faça uma exortação espiritual séria e sólida. Que se tenha um momento formativo sério: sobre seguimento de Cristo, ser Igreja hoje, temas de vocação, do ser homem, ser mulher, do sentido do amor humano em todas as suas dimensões, temas de oração... etc... tudo doutrinariamente correto e profundamente centrado na vida.
Os jovens precisam gostar de ler, de estudar, de serem bons nos estudos e na profissão. Ler também textos franciscanos. Imagino que os jovens possam ir se formando humana, cristã e franciscanamente. De tal sorte que sejam leigos e leigas peritos e sólidos. Não precisamos de grupos de jovens que gritam e tem chiliques
Parece importante fazer uma profunda experiência do irmão, do irmão leproso, no tempo das juventude.
Os jovens são alegres... capricham no canto...na letra e na música... passeiam e cantam... cativam pelo canto de boa qualidade...
Que os jovens tenham momentos muito fortes nas festas franciscanas.
Espero que na fraternidades de jovens eles se preparem para o casamento, para a fraternidade no mundo, para serem leigos lúcidos no mundo....
Deve-se encontrar um jeito de fazer com que os jovens sejam profundos e não se contentem com uma vida cristã medíocre.
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