O testemunho de Frei Leão como companheiro de Francisco continua, seguindo a narração agora do livro 'Atos do bem-aventurado Francisco e dos seus companheiros'. Nessas linhas, mais particularmente, abordamos a conversação do santo e seu discípulo, no episodio conhecido como a 'Perfeita alegria', e que nessa obra recebe o titulo 'Da doutrina de São Francisco a Frei Leão que só na cruz seja a perfeita alegria'¹.
Esse episodio merece especial destaque porque,segundo os irmãos que nos precederam, a fraternidade JUFRA de Franca-SP recebeu o nome de 'Frei Leão', justamente por conta dessa passagem.
De inicio, encontramos Francisco e Leão caminhando. E é nesse caminho que se desenvolve toda a historieta em questão. Antes de passarmos para a passagem propriamente dita, nos apeguemos a esse aspecto que se repete reiteradas vezes nos ensinamentos do assissiense. Francisco, a exemplo de Jesus, não escolhe um lugar fixo para expor seus pensamentos, mas faz do caminho, tanto o físico quanto o espiritual, o lugar de sua pregação. Isso nos recorda que não devemos ter uma paragem fixa, não só por morada mas também como lugar da pregação, do ensinamento, do exemplo, e sim, nos tornarmos peregrinos, em constante movimento.
Em relação à mensagem que o Seráfico Pai partilha com seu companheiro, Frei Leão em sua simplicidade habitual, deve ter-se espantado. Ora, Francisco indica feitos grandiosos que só poderiam ser operados por frades que se deixassem mover pela mais profunda fé e inspiração divina. Mas, para espanto de Frei Leão, Francisco ensinou que nisso ainda não se encontrava a perfeita alegria.
Francisco, o profeta medieval, se inspira em Isaías, o profeta da mensagem messiânica, e em sua profecia que dista dos sofrimentos do mais humilde dos servos, 'o servos dos servos'², o Cristo que viria ao mundo.
Jesus curou os doentes, ajudou os necessitados e converteu a tantos outros à verdadeira fé. Mas não era aí que se encontrava a verdadeira ou a legitima missão do Filho de Deus. Foi na cruz, no flagelo, na dor e no sofrimento do Verbo divino que tudo isso se concluiu de fato. Na alegria de sofrer e dar sua vida para remissão dos nossos erros e pecados.
Por isso Francisco ensina a Frei Leão que a perfeita alegria não se encontrava simplesmente nos fatos, momentos e feitos que são bons por si mesmos, e fonte de uma alegria essencialmente humana. Mas sim, no sofrimento. Não um sofrimento sádico.
Francisco pensa que para um simples mortal, poder experimentar de momentos de sofrimento, que de alguma maneira se assemelhassem aos do calvário de Cristo, e nessas circunstancias se manter tranquilo pois até o filho de Deus compartilhou da dor, isso já seria motivo de verdadeira e perfeita alegria.
Era isso que Francisco tanto queria, e que partilha com exclusividade com Frei Leão: dividir do sofrimento de Jesus, e se alegrar com isso. Eis a prefiguração de um dos momentos mais significativos e sublimes da vida do santo de Assis: a crucifixão da carne e do espirito.
Frei Leão tem a graça de testemunhar não apenas a prefiguração, mas também a esse momento tão emocionante da espiritualidade de Francisco e seu mais intimo contato com o Filho de Deus.
Mas esse é um assunto para outras linhas!
Wendell Ferreira Blois
subsecretario de formação
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¹ No link que disponibilizamos para consulta, a mesma passagem é intitulada 'Como São Francisco ensinou a Frei Leão que só na cruz está a perfeita alegria'.http://www.procasp.org.br/paragrafo_capitulo.php?indice=6&titulo=Actus%20Beati%20Francisci%20et%20sociorum%20eius&cParagrafo=1078&cCapitulo=25#Act%207
² Isaias 50, 4-11 http://www.bibliacatolica.com.br/01/29/50.php
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