quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

TRIBUTO A FREI LEÃO (6)

Frei Leão, testemunha do admirável!

"E eis que o véu do templo se rasgou em duas partes, de alto a baixo, a terra tremeu e fenderam-se as rochas.¹"
Essa passagem se refere aos acontecimentos que sucederam a morte de Jesus, mas de certa forma e com a devida licença poética, poderia ser utilizada para descrever a nova vida de Francisco depois de receber os santos estigmas, já não como simbolo da morte e sim de vida, de amor e doação.
Esse momento especial da vida de Francisco está detalhadamente registrado no livro "Das cinco considerações sobre os estigmas de São Francisco de Assis"², e é justamente nesta obra que encontramos a maioria das referencias sobre Frei Leão levantadas para essa pesquisa.
É demasiadamente perigoso se deter em tal passagem, por sua beleza, riqueza espiritual e singularidade. Mas como ela já é razoavelmente conhecida e essas linhas são dedicadas as seguidor e não ao mestre, miremos a figura de Frei Leão.
Três frades acompanharam o Seráfico Pai até o sopé do Monte Alverne, em agosto de 1224, mas apenas Frei Leão foi chamado a subi-lo junto com Francisco. Penso que os dias que se seguiram podem se resumir e comparar a dois grandes momentos da vida Cristo, os quais nosso personagem presenciou: o julgamento, não por Pilatos mas pelo próprio Criador, e a crucificação no 'novo Gólgota'.
Francisco se isolou em certo local do monte e pediu que Leão ficasse a tal distancia e em determinado ponto em que ele não o visse ou ouvisse, e só se aproximasse para lhe trazer o alimento e rezar juntos uma vez por dia. Pois bem, Frei Leão era muito humano e avidamente curioso. Curioso em partilhar da espiritualidade de Francisco, a ponto de se aproximar do local em que o assissiense estava, fora do momento combinado.
E foi assim que ele viu uma especie de Pretório, ou tribunal. Sem paredes. Sem teto. Até mesmo sem um juiz visível. Mas apenas um réu que grita contra os ventos do Alverne, reiteradas vezes, sua suplica penitencial: "Quem sou eu e quem és Tú? Tú és o Bem, todo o Bem, o sumo Bem! E eu, teu servo, um vilissímo verme."
Esse não parece um julgamento comum. O juiz parece querer dar ao réu não um castigo, mas um precioso presente ou privilegio, mas ele se recusa a recebê-lo, dizendo-se indigno.
Porém,nada ou ninguém pode se interpor à vontade da Justiça e o réu é sentenciado com a pena mais sublime: o Amor. Daí em diante ele sentiria o maior dos Amores, aquele que um dia um outro réu sentiu dando sua vida por seus irmãos.
Como testemunhas, esse julgamento contava apenas com a natureza que cercava o réu e um único homem que espreitava aquele místico tribunal, escondido, tal como um 'cordeirinho' por detrás dos arbustos.
A execução penal viria daí a pouco.
A testemunha não estava espiando como anteriormente. Percebeu que algo que ia além de sua compreensão estava acontecendo junto à cela imaterial do condenado. Ele foi ao encontro do réu.
Ali ele não encontrou a mesma pessoa que a pouco tempo havia convivido. Algo de anormal havia acontecido. O véu de seu templo interno havia se rasgado, golpeado por um martelo, flagelado com pregos invisíveis nas mãos e nos pés e um golpe de espada próximo ao ventre. Mas a aparência permanecia tranquila.
O Amor mais sublime havia deixado suas marcas naquele homem.
A sentença fora executada!

Frei Leão é aquele que primeiro vê as marcas que São Francisco trazia consigo. Provavelmente não entendeu logo a principio, mas na fé, foi a testemunha do mais admirável acontecimento que alguém pode presenciar: a crucifixão da carne e do espirito, tal como em Jesus.

Wendell Ferreira Blois
subsecretario de formação
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¹ Mateus 27, 51
² Link para consulta http://www.procasp.org.br/subcapitulo.php?cSubcap=59

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